Fui alfabetizada por minha avó, Anália, aos 04 anos de idade, que utilizava aquelas folhinhas finas dos cadernos de desenho para que através dos decalques, eu conhecesse as letras. Minha mãe costumava contar histórias que me deixavam maravilhadas antes do sono chegar. Hoje, acredito eu, que eram inventadas. E por isso mesmo, agora me encantam ainda mais...Os livros faziam parte da rotina de meu pai e de nossas vidas, mesmo para os meus irmãos que não se aventuravam em suas páginas. Eu era uma menina ávida por eles. No recreio, nas férias, nos finais de semana...Mas desde muito cedo eu costumava ser tomada por uma profunda melancolia, a princípio incompreensível, nos finais de tarde. Na infância ela se transformava em choro. Aos dez anos, em devaneios e aos onze, em versinhos nos cantos das páginas. Ao longo de todo esse tempo, fui perseguida por esse desejo de escrever e de transformar esse bolo melancólico que me persegue, em linhas. Acredito eu, que essa mistura de família com letras, de cuidado com escrita, de livros em plena infância e de encantamento nas noites, foram grandes responsáveis por esse desejo incontido. Eram tão poucos recursos naquela época, mas tamanha criatividade! Hoje vejo uma infinidade de ferramentas, em livros, em rede, em tecnologia, e tamanho vazio! É como se no universo, se instaurasse o caos...
terça-feira, 31 de maio de 2011
Fui alfabetizada por minha avó, Anália, aos 04 anos de idade, que utilizava aquelas folhinhas finas dos cadernos de desenho para que através dos decalques, eu conhecesse as letras. Minha mãe costumava contar histórias que me deixavam maravilhadas antes do sono chegar. Hoje, acredito eu, que eram inventadas. E por isso mesmo, agora me encantam ainda mais...Os livros faziam parte da rotina de meu pai e de nossas vidas, mesmo para os meus irmãos que não se aventuravam em suas páginas. Eu era uma menina ávida por eles. No recreio, nas férias, nos finais de semana...Mas desde muito cedo eu costumava ser tomada por uma profunda melancolia, a princípio incompreensível, nos finais de tarde. Na infância ela se transformava em choro. Aos dez anos, em devaneios e aos onze, em versinhos nos cantos das páginas. Ao longo de todo esse tempo, fui perseguida por esse desejo de escrever e de transformar esse bolo melancólico que me persegue, em linhas. Acredito eu, que essa mistura de família com letras, de cuidado com escrita, de livros em plena infância e de encantamento nas noites, foram grandes responsáveis por esse desejo incontido. Eram tão poucos recursos naquela época, mas tamanha criatividade! Hoje vejo uma infinidade de ferramentas, em livros, em rede, em tecnologia, e tamanho vazio! É como se no universo, se instaurasse o caos...
Neste mundo que me cerca, muitos mundos a minha volta... Eu transito entre eles. O que não quer dizer que sou parte deles. Há sempre convenções a cumprir, num jogo de conveniência e/ou sobrevivência que me incomoda. Mais ainda por saber que questiono, mas termino por ser uma peça desse tabuleiro, como qualquer outra pessoa. O que me torna uma pessoinha tão comum quanto tantos, que condeno...
BRILHO DE LATA
Tem mundos
que não me cabem...
Os que preciso
de máscaras
de rímel e gloss.
Prepotência e futilidade.
Sandálias altíssimas
discutindo apenas
a superfície...
São planetas
por onde vago
deixo-me tentar
com cabelos e maquiagem
impecáveis.
O fácil.
O chique.
O ouro de tolo.
E depois vou-me embora
questionando meu lugar
perdida entre mundos...
(Tâmara Rossene)
quarta-feira, 25 de maio de 2011
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Do cais aqui de Ibotirama avisto do outro lado, o povoado da Passagem. Lembro que houve uma época em que eu tinha uns três, quatro anos e morávamos em Barreiras. Não tinhamos a ponte permitindo o acesso tão facilitado a um e a outro lado da margem. A travessia era feita através de uma balsa. E a Passagem era um movimento intenso de pessoas que iam e vinham. Um fervilhar que avistávamos do lado de cá! A bordo da balsa o meu coraçãozinho ficava apertado, imaginando os que me esperavam do outro lado: a casa dos meus avós a esquina da rua do Quebra Perna (hoje JJ Seabra); o cheiro de café quentinho e do bolo de nata saíndo do forno; a sombra das árvores no quintal; os intermináveis braços que me receberiam... O rio era um elo que me levava para junto dos que eu amava. Naquela época olhávamos desejosos do cais, as coroas que se formavam quando o rio vazava, nas terras de Seu Vecinho. Às vezes nos aventurávamos em pequenos barcos para explorar o seu território. Lembro-me de certa vez em que estive com uma tia em um desses passeios, escondida dos meus avós. Ah, que delícia estar do outro lado, dentro da água fria do Velho Chico, sem pensar no que aconteceria se fóssemos descobertas. Depois veio a ponte, numa simbologia de integração, enfeitando a paisagem. Mas passamos tão rápidos sobre o rio, que já não imaginamos que ora estamos num, ora noutro lado...A facilidade de atravessá-la apenas aumentou a nossa pressa. Talvez por isso eu olhe o Povoado da Passagem, o rio e o Cais e fique essa sensação de cartões postais esquecidos no tempo...
Rio que passa, manso e tranqüilo,
Como a vida transcorre
Na vila bem próxima.
É parte daqueles que cruzam suas águas
Todos os dias,
Em busca de outras barrancas
Procurando alimentos, cargas,
Lenha para transportar,
De férteis terras, para o plantio;
Rio arrojado
Que vem de outras plagas
Trazendo esperanças,
Trazendo tristezas.
Às vezes, a morte boiando
Sobre as águas barrentas,
Do tempo de cheias.
Rio imprevisível, que arrasta bonança
No húmus fertilizante
E no peixe que fervilha.
Sangue indomável
Do sofrido barranqueiro
Que espera calmamente
Em cada novo ano
Uma vida diferente, que nunca vem...
Rio andante, de esperanças sofridas
Alegria, tristeza, desejo, alimento,
Apego, poema, canto,
Sonho, ternura
Crença, sangue
HISTORIA....
Do barranqueiro
A própria
- VIDA!...
(Orlando Ribeiro de Andrade)
P.S. Na foto, Lurandy e a especialidade da casa...saboreiem!
domingo, 15 de maio de 2011
OS MENINOS DA FEIRA
Nas manhãs de sábado,
ao raiar do dia
os meninos do Alto do Cruzeiro
descem a feira para fazer fretes.
E pelo caminho vão marchando
junto com outros iguais
do Alto do Fundão, São Francisco ou São João.
Tantos outros meninos,
a mesma sorte do destino.
Como um pelotão ensaiado
com seus uniformes maltrapilhos
e seus carrinhos de mão
olham pra o chão e cumprem a missão
de ganhar a vida...
Lá vão os meninos da feira!
Passeiam com seus carrinhos
como se guiassem boizinhos, trenzinhos,
brinquedos imaginários
nas mãos calejadas de menino
como a dos lavradores
que aram a terra.
Quer que eu leve? Vai carregar?
Vozes em eco
perdidas no burburinho da feira.
Meninos homens
ou homens meninos?
Desigualdade
Diferença
Desatino.
Carregando para as madames
o banquete dos principezinhos
que esbanjam sorrisos quando a porta se abre
e menino olha menino,
agora, com diferentes destinos.
E ao cair da tarde
lá se vão os meninos de mãos calejadas,
voltar com seus parcos trocados
para o pão de cada dia.
Os meninos da feira,
ansiosos esperam
pela melhor hora do dia,
quando o sono os abraça
e eles correm sem carrinhos.
Não para o caminho da feira
mas para o sonho maior
de um dia brincar,
feito crianças...
(Tâmara Rossene)
P.S. A foto foi tirada por Orlamara, na Ilha Grande, em 2006, quando estava mapeando a cultura de Ibotirama.
terça-feira, 10 de maio de 2011
segunda-feira, 9 de maio de 2011
domingo, 8 de maio de 2011
A cada segundo eu gesto...
Enquanto moléculas, células, sangue e veias
Se formam
Eu gero conceitos, idéias e sonhos.
Não há só uma vida aqui dentro
Mas infinitas...
Agora esse ser que se materializa
Certamente nesse cordão que nos une
Se infiltra nesses medos
E alegrias que me invadem
cada instante.
Além do alimento que degusto
e lhe dá sustento
O faço provar
daquilo que me incomoda
E me propulsiona.
Nesse tempo em que espero
Seremos só um
Gestando
Em carne, sangue e espírito...
(Tâmara Rossene)
P.S. Como não consegui carregar, segue o link do vídeo de Nightwalker, de Thiago Petit, que me foi apresentado por Mariana. Adorei. Como disse ela - é a minha cara! rsrs...Quem puder, assista! É só colar o link no navegador.
sábado, 7 de maio de 2011
Eu queria uma menina de cabelos desgrenhados.
Acordar sufocada em castanhos ventos
de cachos.
Em ondas.
Em nós.
Grito contra os comerciais de seda na tv.
Aos lisos milimetricamente penteados.
Nossos cabelos entrelaçados.
Alvoroçados
na negritude da manhã de sol.
Debaixo dos céus
como auréolas.
Minha menina dos sonhos uterinos.
Cabeleiras tão fartas
quanto teus sopros criativos
em minha cabeça!