terça-feira, 4 de abril de 2023

                                       



Na minha infância, quando eu morei um período em Barreiras, chegar ao povoado da Passagem, era sinal de que eu estava prestes a abraçar meus avós, Anália e Miné. A travessia de balsa até a outra margem, eu fazia com os dedinhos se movendo nas mãos entrecruzadas, coração aos saltos, doida prá sentir o cheiro do escaldado de farinha, o gosto do bolo de nata, dos bolinhos de comida na gamela; prá ouvir meu apelido "Minha", sendo pronunciado com tamanho  afeto. O trajeto de 40 minutos durava uma eternidade.. Mas até alcançar o outro lado, o rio me acolhia como se me ninasse, no balanço da embarcação, enquanto a saudade ia ficando cada vez menor, como as pessoas observando na beira d'água. Chegar lá, significava ser rodeada de encantamento e  amor.

Hoje eu vi o dia amanhecer nesse ponto, onde meu peito marcava o compasso da chegada, naquela época, quando a Passagem era um fervilhar de pessoas, tão distante da solidão do agora. A alvorada que surgiu, lançou luzes sobre minhas memórias, da menina feliz que eu fui um dia. Da ponte que interliga esse território, ao da mulher sedenta que me tornei

Amanhecer nesse ponto,me fez recordar o poeta, que disse:"eu quero meus braços abertos, de frente prá o rio''.

E me devolveu o sopro do sentido de chegar e permanecer nestas bandas ribeirinhas. Porque hoje eu também cruzo um rio. E embora esse rio que ora atravesso seja revolto, eu também tenho encontrado amor e acolhimento a minha volta.

Obrigada ao moço gentil, que cruzou estas águas;me transportou, fotografou e cedeu a fotografia,além de aquecer o coração da menina e da mulher, abrindo este portal...