terça-feira, 31 de março de 2015



Há muito tempo não assisto a novelas e assisto muito pouco a televisão. Mas, sobre o boicote a última novela da rede globo, fico imaginando se propuséssemos um boicote a todas as emissoras que propagam a intolerância, o preconceito, o ódio e a violência. Que propagam a imagem de nós mulheres, como mero objetos sexuais. Que disseminam a imagem de que o cara esperto é o que sabe levar vantagem, independente dos métodos utilizados. Das novelas que modificam o cotidiano das favelas, criando falsos estereótipos. Das tramas que aproximam a mocinha pobre da gente rica, fazendo com que transite com naturalidade em seu cotidiano e que tenha sempre um final feliz. E fico imaginando o boicote ao esvaziamento de conteúdo na TV. E dos noticiários que exploram até a exaustão o sofrimento alheio, nos repetecos das cenas de crimes bárbaros. E sigo imaginando o boicote a notícia que se propaga dando apenas uma versão dos fatos, induzindo opiniões alheias, manipulando. Assim, até eu, que estou tão afastada da grande caixa mágica, me renderia... E proponho ainda, boicotar a música estridente e de baixa qualidade, que soa na maioria dos bares; o preço alto dos livros; a falta de educação e de gentileza de tantas pessoas a nossa volta. Vamos boicotar geral, a Babilônia que nós mesmos criamos! Basta abrir a porta de nossas casas e observar...

P.S. Na foto, nosso boicote a falta de tempo dos pais, com João e Celo empinando pipa.

quarta-feira, 11 de março de 2015



E depois de ler tantas mensagens pelo dia internacional da mulher, sem desconsiderar os motivos e a simbologia da data, eu me pego pensando na culpa que ainda recai sobre nossas cabeças. Porque apesar de nos permitirem esticar a jornada de trabalho para o mercado lá fora, ainda somos obrigadas a dobrá-la ou a triplicá-la. E quando o trabalho em casa se acumula e os pratos se empilham sobre a pia, a culpa é de quem? A culpa de todo dia, quando nossos filhos se machucam em casa, sem a nossa presença; quando sentem dificuldades na escola; quando vertem lágrimas com a nossa saída. E o engraçado é que o modelo idealizado do "provedor" do lar já caiu por terra há muito tempo, porque o sistema é cruel e as necessidades básicas de cada dia não se satisfazem, se também não formos a luta. E penso em tantas mulheres que arrastam os seus filhos com os olhinhos miúdos de sono, para estudar a noite, porque não ousam deixá-los em casa, com os seus companheiros. E em quantas de nós, apontando feito gatilhos os dedos em riste, para mostrar de quem é a culpa, quando aparece uma única falha. Nós, que conhecemos tão bem as nossas dores, mas que culpamos as outras, assim como a sociedade machista que nos formou...Nós, que ainda não aprendemos a sermos solidárias e a nos irmanarmos.
Por isso, decidi ilustrar esse momento com uma foto de minha mãe, na década de 80, concluindo o curso de Pedagogia na primeira turma da UNEB, em Salvador. Dividia o seu tempo entre as 40 horas no estado, os estudos e nós, seus filhos. Me provou numa época muito mais difícil do que a nossa, que nós mulheres, podemos falhar tanto quanto os homens, porque a mesma matéria nos constituiu. E nos criou assim, sem fugir a luta e aos dedos apontados. Sem se intimidar, seguindo os caminhos que ela mesma escolheu...

sexta-feira, 6 de março de 2015

O rapaz observa a moça em total encantamento. Filha de uma amiga de uma tia, que veio trazer uma encomenda. Tão jovem ainda, mas já graduou-se. Agora anseia em seguir outros caminhos. Sacode os cabelos graciosamente e volta-se para ele. Ele bebe cada palavra dita e sonha pedir-lhe em casamento. Ela sorri e ele quer ter dois filhos. Não, quatro! e todos parecidos com a mãe. Se pudesse, faria o pedido naquele exato momento. A mulher perfeita. Ele quer ouvi-la mais, apenas para confirmar o que já constatara. Em meio ao diálogo, com a sua mãe ao lado, ela lhe diz que espera que não "seje" nenhum incômodo. A palavra dita que não volta. Ele quase aos gritos, lhe pergunta: Que o que? E ela repete: Que não "seje" nenhum incômodo. Ele quer morrer. A noiva era perfeita e agora a palavra, golpeia-lhe a face e lança com intensidade, ao chão, os seus planos. Lá se foram os quatro filhos e as alianças trocadas. SEJE! SEJE! SEJE! A palavra cravando em seu peito. Ele balbucia: Ah, maldita palavra! Ela e a sua mãe olham curiosas para ele com cara de interrogação. E ele, percebendo, tenta desfazer o dito e apenas responde: E eu espero que você seja feliz!