quarta-feira, 23 de março de 2022

 Um ano finda. Eu recomeço... Muito de mim já terminou. Pouco ainda é recomeço. Mas vivo o movimento do reaprender. Pós AVC, tudo é recomeço. Todo dia reaprendo. A andar. A sentar. A socializar. A existir perante o mundo. E o mundo é esse poço. Onde me afundo. E reexisto.. Um tanto de mim resiste. Outro tanto INSISTE nessa lógica. Desde o dia em que mal acordei e já era noticiada com o coágulo estampado numa máquina. Desde quando metade de mim era paralisia. Desde aquele dia eu sou confusão. Metade de mim sabe que existe. A outra metade RESISTE nesse jogo de insistência. E desde sempre nuca mais serei a mesma. Eu insisto na incerteza. Como todo mundo. Afundo nesse poço profundo. Ah, mundo! Serei feliz? Voltarei a ser eu mesma? Ninguém sabe. Eu luto com todas as armas que me restaram. As garras que desenvolvi antes de me resumir em ANTES E DEPOIS DO AVC. Em minhas memórias, estou impregnada de você. Nós nos transformamos num amontoado de memórias. Recortes que sofregamente alimentamos.  Nenhum plano vingou. Mas estamos nos meninos. E eles em nós.Nosso passaporte e fortaleza. A mesa continua posta. E o sonho da rota. Desde antes. E após.


Caldas Noovas, 30 de dezembro de 2021.