sexta-feira, 31 de outubro de 2014



Como acabamos de passar pelo Dia Nacional do Livro, lembro que a minha mãe me contava histórias antes do sono chegar. Quando cansava dos livros que lia prá mim, inventava personagens incríveis, que povoavam os meus sonhos, pela madrugada. O meu pai trazia pilhas de livros prá casa e nos finais de semana, vivia com os olhos ávidos, percorrendo alguns deles. E trazia para o nosso meio, dezenas de personagens. Saía de um herói bíblico prá um Deus da Grécia Antiga, numa facilidade tamanha. Dizia que os livros eram a única riqueza que nos deixaria. De vez em quando, eu me deparo com Casa Grande e Senzala, Menino de Engenho, com romances, personagens e filósofos que me olham como se estivessem em outra época... os livros que ele me deixou! Muito cedo, eu me enveredei por Reinações de Narizinho. E por muitas vezes meus dedos procuraram os livros que me proibiam, porque não se adequavam a minha idade. Assim foi com os Miseráveis e com Bocage. A minha imaginação pulsando... Uma receitinha simples, nesse mundo cheio de aparatos tecnológicos. Mais tarde, na Faculdade de Economia, eu me debruçava por horas, sobre os grossos volumes, ora copiando, ora atrás das tais fotocópias. Agora, o acesso tão facilitado! Mas fico aqui pensando, que em meio a tanta informação, há tanto esvaziamento de conteúdo! Tanta reprodução, sem aprofundar-se... Como se desse universo inteiro a explorar, de repente, se instaurasse o caos...

P.S. Na foto, João Marcelo, ainda muito pequenino, impressionado com uma livraria.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014






Sozinha na cidade
entre caminhos confusos
e sentimentos conflitantes
atrás do andar intenso 
de quem precisa chegar a qualquer custo.
Enquanto eu
ando sem pressa
escolhendo um dos infinitos rumos.
Eu-rizoma
traçando conexões
combinações binárias
pontos convergentes.
Embora todos eles retornem a um único ponto:
Eu e a cidade
unidas pela solidão.

(Tâmara Rossene)

P.S. Na foto, Mariana, na Ponta de Humaitá, clicada por mim.

domingo, 5 de outubro de 2014



Daqui a cem anos
meu sorriso ironico não penetrará mais em teus ouvidos
ninguém mais escutará meu grito
a minha voz já terá se dissolvido
e o meu clamor emudecido
não fará mais eco 
nem chegará aos meus inimigos
todos silenciados em algum jazigo.
O salto dos meus sapatos carcomidos
não insultará mais as pedras da avenida
e eu restarei esquecida...
A única nesga de esperança
é que quando meus rastros se diluírem em pó
e quando meus restos não forem nem mais alegres
nem tristes
a palavra me eternize...

                   (Tâmara Rossene)