terça-feira, 16 de agosto de 2016


A moça me olha, p-a-u-s-a-d-a-m-e-n-t-e. Depois me diz: Você deveria ir num designer de sobrancelhas. Eu automaticamente coloco a mão nas linhas tênues acima dos meus olhos e fico tentando compreender o que há de errado com elas. Ela com toda certeza leu os meus pensamentos e logo complementa: É para escurecer mais um pouco, dar formato, sabe? tem um maravilhoso que eu posso te indicar. Eu retruco dizendo que gosto delas do jeito que são. Que não tenho nada contra os traços desenhados e espessos. Acho até bonito em algumas pessoas, mas não tenho intenção de mudar. Digo que quando as quero mais escuras, lanço mão do lápis. Ela insiste, fala que eu não estou entendendo, que o lápis risca a pele e que ela está falando de preenchimento dos fios, que isso é resistência de quem não conhece. Eu me lembrei então que certa vez, num ônibus em Salvador, há alguns anos, uma Senhora perguntou quem fazia as minhas sobrancelhas. Quando eu disse que não fazia, ela deu de ombros, como se eu estivesse faltando com a verdade: naquela época, elas estavam na moda. Eu mantenho a minha posição. Diante da minha inflexibilidade, ela diz que eu tenho as sobrancelhas ralas e pouco expressivas, se quero continuar assim, que seja.
Ah, moça! Eu gosto das minhas sobrancelhas exatamente ralas e pouco expressivas. Gosto do contraste que elas fazem com meus olhos grandes e com o conjunto que compõe com o meu rosto fino. Mas lhe confesso, que não sou avessa a vaidades. A maquiagem me seduz facilmente, principalmente um batom vermelho fosco e olhos com contorno preto, muito rímel e esfumaçados. Também gosto de unhas vermelho brilhante, embora eu quase sempre ache desnecessário, abrir mão de tantas coias que me fazem sentir mais leve, em duas, três horas de salão de beleza. Então, as unhas sempre esperam. E me incomodo muito com os fios brancos que saltitam como se fosse pirraça. Verdade que não suporto o cheiro da amônia, mas sempre faço arte nos cabelos. Mas ainda assim, por muitas vezes tenho que explicar a mãos habilidosas que querem amansar os meus cabelos numa progressiva, que o volume que eles tem, são como a minha personalidade revolta. E tem mais uma coisa, moça: Tem dias que eu uso salto, porque gosto do efeito de poder que eles causam. Mas na maioria deles, eu uso sandálias e sapatilhas e não me incomodo com o olhar sobre os meus pés, que as vezes observo. Noutros dias, eu gosto de saias longas e de fugir aos modelos convencionais. Mas acho que você vai gostar de saber,que eu adoro brincos grandes e de anéis. Então, minha moça linda... Eu lhe agradeço por tentar me encaixar. Mas eu já me acostumei aos desajustes. E depois, moça querida, eu não quero estar bem ao olhar alheio. Eu só quero me olhar no espelho e saber que estou na moda: a moda em que eu me reconheço, com os formatos que decidi me revestir...