quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Nunca senti tanto calor em pleno dezembro... Se bem que de um tempo para cá, dezembro vem se modificando... o Natal, tão representativo prá mim, vem se transformando numa festa por vezes tão hipócrita! Essa obrigação de presentear me parece tão desigual! De mesa farta em contraponto a mesa em falta... Nessa época eu gostava mesmo era dos Ternos de Reis chegando na porta das casas, em festa. As portas se abriam e junto a festa dos reiseiros, o dono da casa providenciava o que tinha a mão para dar de comer e de beber ao grupo. Depois eles foram ficando a cada dia mais marginalizados. Reizeiro para alguns é sinônimo de gente embriagada. A falta de incentivo aos grupos junto com essa visão deturpada, porque por detrás dos Santos Reis tem um cunho religioso, foi empurrando-os para as periferias, cada vez mais. As Lapinhas também foram virando poeira do tempo. A última que vi foi no ano passado, na casa de Dona Nazinha, ali no cais. Ontem passei por lá e vi a casa toda fechada, sem qualquer sinal dum tempo que gosto de recordar...

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Estávamos no finalzinho da década de oitenta e de volta a Ibotirama, ladeados pelos sonhos de meus pais, de uma nova vida, pós formação superior, nos braços da terra natal... Naquela época a adolescência batia a minha porta. Dentre os novos amigos desse novo mundo, "o goiano", apesar de um pouco mais velho, virou presença constante em nossa casa. De olhos verdes, cabelos caindo sobre a testa e traços afiladíssimos, além de um verdadeiro galã, era de uma gentileza extrema. Tão sensível, que por vezes tornava-se incompreendido. Tocava um violão meio desafinado, cantava meio desafinado, mas era dono de composições tão puras, que esse desafinar tinha um certo encantamento. Me trazia uma serenidade sem tamanho. Dono de uma caligrafia linda, me deixava absolutamente surpresa e lisonjeada, quando elogiava a minha letra. Depois de um certo tempo, foi cursar Técnico Agrícola em Catu. Ainda assim, me trazia notícias nas férias. Lembro-me de uma moça chamada "Linda Rosa" por quem se apaixonara e que, por conta dela, me fazia ficar imóvel por horas, ouvindo suas queixas sobre a interferência da família no namoro. Depois a vida nos lançou em direções opostas, mas não o relegou ao esquecimento. Volta e meia me perguntava por onde andaria José Carlos Vilaverde. Ontem soube que faleceu há pouco tempo e que estava logo ali no Morpará. Soube também que continuou compondo e cantando e que a vida lhe trouxe muitas amarguras. Mas que deixou composições maravilhosas para os que estavam próximos. Não constituiu família e morreu sozinho, sendo encontrado apenas três dias depois. Tenho quase certeza, que o peso desse mundo deve ter ficado insuportável para os seus ombros tão leves...
Abaixo, um poeminha meu, porque foi inquieto como eu, apenas sabia disfarçar melhor...

Dentro de mim
um poço reina
profundo...
As agruras que lanço
sem dó
as inquietudes
meu olhar sobre o mundo.
Tem dias que lanço a corda
e sem medo desço.
Afogo minhas angústias
fujo dos meus desejos.
Tem dias que cerro a tampa
e na superfície renasço.
Poço de mim
fuga com as quais
sobrevivo nos percalços.

(Tâmara Rossene)