quinta-feira, 23 de junho de 2011

Memórias Juninas



O São João é um dos festejos que mais me trás alegria. Há algum tempo nessa região, era comum ver fogueiras em que arrancavam árvores inteiras, amarravam nos galhos frutas, doces e atavam fogo. Quando a árvore caía, todos já estavam na maior expectativa e se atiravam sobre ela para arrancar o que estava preso. Eu como ainda era muito pequena, adorava acordar cedo, depois da festa de São João, para ver se havia sobrado alguma balinha presa nos galhos dessas fogueiras. Hoje em dia arrancar árvores nem pensar. Mas me lembro também que a festa junina sempre trouxe muitas fogueiras acesas pelas ruas daqui de Ibotirama. As casas, por mais humildes que fossem, sempre tinham um foguinho a porta, canjica no fogão, às vezes milho...nas mais abastadas, outras delícias típicas, e um licorzinho, que não vemos mais por estas bandas. Na casa dos meus avós o São João sempre foi muito festejado. Na casa dos meus pais fomos seguindo os costumes... Agora vejo muita gente se queixando porque credita ao poder público a responsabilidade de produzir mega eventos nessa época. Mas essa sempre foi uma festa tão nossa, tão íntima...assim como há uma simbologia na fogueira de São João, creditando a sua existência a fogueira acesa por Isabel para avisar a Maria que estava grávida de João Batista, a fogueira para nós era como uma simbologia as nossas tradições se perpetuando pelo tempo... A minha memória volta em tantos fatos que vivi nesses festejos... os fogos de artifício comprados por meus pais. O susto que levei numa dessas vezes quando fui pegar algumas bombinhas de salão escondidas e derrubei o pacote inteiro de cima do guarda roupa. As barraquinhas que eram montadas aqui na Praça da Bandeira, com turmas de alunos do Colégio Cenecista. Um desses anos que passei ali na Fazenda da família Simões. As quadrilhas na quadra do Cenecista... Ontem tive a sensação de que as fogueiras estavam se apagando aqui entre nós. Mas ao acender os meus pauzinhos na frente de casa, vi que eu não era a única... Hoje, ficamos mais de uma hora sem energia, ao cair da noite. Foi surprendente ver aqui na Juracy Magalhães, tantas fogueiras acesas. Depois percebi que elas também existiam na JJ Seabra, na Av. ACM, em parte da Alcebíades Quinteiro, na Manoel Novais e imagino que em outras ruas por onde não passei. Crianças iam e vinham de todos os lados soltando fogos. Sinal de que nem tudo está perdido. E que dentro de nós, ainda crepitam as labaredas das fogueiras de São João....



Acima, uma foto do São João de 2007, aqui em Ibotirama, prá matar a saudade e outra tirada por Mariana, das fogueiras da minha rua.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Há o que vivo e não quero.

Há o que quero e não posso.

Há o que posso e não escolho.

E o que escolho e me podo...

Artifícios que não sei

se me colocam a salvo

ou se indecifrável

sou farsa...

Essa que ora se mostra

será o todo

ou apenas a crosta?

A ponta do iceberg

pedaço que se expõe

é a comodidade que me cala...

O que parece gélido

é o que há de cálido.

Sentimentos ocultos

me revelam.

Sou eterno dissimular

ou medo?

Fortaleza

ou mera destreza em ocultar-me?

Talvez propositalmente inacessível

para que o mistério seduza

ou apenas

fuga....


(Tâmara Rossene)

domingo, 19 de junho de 2011


Ah, essa saudade de meu pai...inevitável e infinita...Prá acalentar o peito, uma poesia dele, chamada Lágrima...


Lagrima cristalina,

Gôta benfazeja e cálida

Desprendida suavemente

Do recôndito d’alma

Espargida docemente

Como fios de prata

Por vale sentimental

De sereno ou agitado

SEMBLANTE.

Feliz de quem consegue vertê-la

Nos momentos de comoções vividas

Conscientemente

Valorizando o que ela encerra

Bendita, puríssima gôta

De puríssimo

Significado...

( Orlando Ribeiro de Andrade)


P.S. O olho da foto, é de Mariana...

Mundos interiores




Eu tenho mundos dentro de mim.

Por mais que eu ande

Jamais conhecerei os continentes

Que aqui habitam.

Sou forasteira

Em terras que me retratam

Ilhotas em mares longínquos

Banhadas em águas turvas.

E quando penso que cheguei a um ponto

Às vezes é preciso retroceder o passo

E percorrer todo o caminho.

As trilhas nem sempre são claras.

Por vezes essa natureza torpe

Que me aflige

Vai apagando o que era claro

diluíndo o compreensível

e num momento de descuido

me banhando em seiva bruta de mistério.

Vago entre planetas

Atrás de mim mesma

expandindo meu pensamento

dentre nebulosas constelações

Enquanto me vejo

Cada vez mais distante

Enquanto me perco

em erratas incorrigíveis.

Sonhos desfeitos e refeitos

contradições cotidianas

reacesas no metamorfosear da lua.

Um dia darei a volta nesse mundo

Eis o grande enigma!

A cada dia novos deles se formam

A cada instante me afasto do velho mundo

A cada segundo eu sou Gaia

em revolução

expansão

mutação...

(Mariana Bomfim e Tâmara Rossene)


P.S. Acima, uma foto minha com Mari, quando ela tinha entre 1 a 2 anos. Agora, minha parceira de poesia...

Como não consegui carregar, o link da poesia interpretada por Mariana...

http://www.youtube.com/watch?v=WGZXeBfNI3Q


quarta-feira, 15 de junho de 2011



Minha Terra quando estive distante


Queria sentir saudades da minha terra sem esse q de mágoa chorosa.
Os tons alaranjados e vermelhos,
a paisagem triste e bela ao cair da tarde,
o cenário nostálgico do sertão!
Mas a minha terra ama mais aos estrangeiros do que aos seus próprios filhos.
Ergue estátuas, celebra coroações, enquanto como órfãos suspiramos por um único afago!
clandestinos em outras pátrias.
Ah, Babilônia!que me atormenta dias e noites.
Ponte que se quebra dentro de mim!
Barco singrando o rio, onde um canoeiro solitário lança suas redes.
Ó mãe que me atou por um fio
quando me perdi pelo mundo
e onde quer que eu vá
mantém a minha cabeça sempre voltada prá trás...

(Tâmara Rossene)
Acordei pensando nos meus problemas... Ao longo do dia, me deparei com pessoas vivendo sob condições de extrema miserabilidade e conflitos que passam longe de mim... Os meus problemas mais uma vez foram reduzidos a pó... Bendito trabalho que me situa em meio a realidade que me ronda! Terminei o dia agradecendo aos céus a capacidade que ainda me resta, de enxergar além das aparências e de conseguir me colocar sob a pele do outro, apesar do sentimento de impotência que me corrói... Que eu não seja acometida pela frieza da miséria rotineira, como tantos, que pela proximidade frequente com o sofrimento alheio, terminam por desconsiderá-lo. Há tanto a escrever sobre isso, mas ao mesmo tempo, há tantas divagações, que temo ser piegas... Lembrei-me agora, do livro Olhai os Livros do Campo, de Érico Veríssimo, que li por indicação de meu pai. Apesar de ter sido escrito em 1938, é atualíssimo. Abaixo, transcrevo um trecho dele, para que reflitam.

"Estive pensando muito na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época. Eles esquecem o que têm de mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura. De que serve construir arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles? É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso, nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu.
Há na terra um grande trabalho a realizar. É tarefa para seres fortes, para corações corajosos. Não podemos cruzar os braços.
É indispensável que conquistemos este mundo, não com as armas do ódio e da violência, e sim com as do amor e da persuasão. Quando falo em conquistas, quero dizer a conquista duma situação decente para todas as criaturas humanas, a conquista da paz digna, através do espírito de cooperação".

segunda-feira, 13 de junho de 2011


Hoje é dia de Santo Antonio...

Já teve uma época em que várias casas aqui da cidade celebravam novena ao Santo casamenteiro. Ou o povo era mais religioso, ou as moças andavam encalhadas, ou hoje ninguém quer mais saber de casamento... Nos últimos anos, apenas Dona Angélica, ali da rua primeiro de janeiro, tem mantido a tradição. Eu admiro muito essa devoção aos santos... Antonio, João e Pedro, quando o ano se reparte ao meio; São Sebastião, em tons vermelhos, quando o ano se inicia; Santa Rita, no mês das noivas; e tantos outros... Eu não sou devota de nenhum santo. Nem sei responder porque. Ou talvez porque os meus santos sejam de carne e osso. Quando eu morava em Nazaré, em Salvador, um senhor de meia idade, saía todos os dias a noite, prá vender cafezinho e só retornava às madrugadas. Conheci ainda na capital, uma mulher tão temente a Deus, que parecia que cada palavra que ela dizia era santificada. Uma senhora que mora próximo a minha rua, criou seus nove filhos sozinha, com pouquíssimos recursos e em extrema dificuldade, e hoje todos são homens de bem...Essas e outras pessoas tem uma aura de santidade quando as vejo... São provas vivas de que tem um contato mais íntimo com o criador... Mas isso não quer dizer que desacredito dos santos que todo mundo acredita. Apenas que me extasio com os que vejo em meio a esse mundo, como se estivessem próximos aos céus!
Viva Santo Antonio,
São Pedro
e São João!

P. S. Na foto, procissão de São Sebastião. À frente do andor, adivinhe quem eram os anjos? Euzinha de vermelho e Orlamara, minha irmã, de branco. O procurador da festa foi Seu Enock Assis e me lembro de ter tomado o famoso café do procurador, na sua residência, ali na rua do INSS...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Nego de Ló


Ibotirama e suas lendas...
Eu deveria ter uns 06, 07 anos e a fama de Nego de Ló corria solta... De batismo se chamava Anísio Alves dos Santos e era natural de Oliveira dos Brejinhos. Morador ali do Sapé, foi um curandeiro famoso. Dizem que vinha gente do Oiapoque ao Chuí e até do exterior prá se consultar com o tal homem! Naquela época eu morria de medo só de ouvir falar no nome dessa figura, porque diziam que a sua intimidade com as cobras era tão grande, que se estivesse passando pela estrada e sentisse alguma próxima, bastava assobiar, prá bichinha vir rastejando aos seus pés. Hoje em dia, muita gente iria querer dominar as cobras desse jeito, já que andamos rodeadas por elas (rsrs). Gracinhas à parte, contam que ele rezava com cobras enroladas ao pescoço e que tinha dezenas delas. Também colocava sapos cururus sobre a cabeça para fazer os seus trabalhos. Contam também que curava gente, desmanchava feitiços, atava destinos... Duas senhoras da família já me confidenciaram que utilizaram dos seus serviços, quando os maridos andaram pulando a cerca. O curandeiro lhes deu um pozinho mágico que elas colocaram na comida dos queridinhos, imaginando em mandar pro espaço, as destruidoras de lares (rsrs). Acho que o pozinho tinha marcado o destino das vítimas. As duas amantes sem mais nem menos arrastaram mala Prá São Paulo, que naquela época, era longe de verdade! Só uma veio aparecer por estas bandas, 15 anos mais tarde, bem casada e esquecida do amante. Certa vez Nego de Ló apareceu na casa do meu avô e depois de ter ido embora, fui beber água num copo de alumínio que ficava na bandeja, próxima ao filtro. Depois que terminei, uma certa irmã mais velha, junto com uma tia, me disseram que Nego de Ló havia bebido água naquele copo. Imaginei ele beijando as cobras como diziam. E lavei a boca umas dez vezes, com a gargalhada das insuportáveis atrás, que ficavam imitando o rezador beijando suas crias. Acho que tudo não passou de uma invenção. E de repente a memória me trás essa história, que como tantas outras, vai virando poeira de estrada. Lanço aqui, para que ganhe ares de perpétua...

P.S. Na foto, euzinha, Tâmara Rossene, aos 04, 05 anos, no quintal de minha avó Anália, com o macacão que ela me trouxe de uma de suas viagens.


segunda-feira, 6 de junho de 2011

Uma poesia de meu pai...


Viagem

Minha viagem dourada

Nos braços da primavera

Transpondo a brisa perfumada

Exalada das cores da ilusão,

Sinto gosto outonal

Aspiro perfumes sublimes

Descendo em pétalas dançantes

Sobre o caminho palmilhado,

Anseio a vida desejada,

Onde a ventura

E a realização

Não seja sonho impossível.

Trasbordando ao som de musicas

Angelicais

Na sonoridade de mágicos violinos

Sou mais feliz

M O R T A L...

(Orlando Ribeiro de Andrade)


P.S. João Marcelo, em clique meu...


Minha filha é morena

como as tardes

em que o escravo cantava

boi da cara preta

prá o seu filho.

O pai dela canta agora L-I-V-R-E.

Mas de soslaio

ainda olham

brancos miscigenados

disfarçados

senhores sem trono

mas escravizados

na lupa medíocre

em que olham o mundo!

(Tâmara Rossene)

P.S. Crédito da foto - Mariana Bomfim, por ela mesma.

quarta-feira, 1 de junho de 2011


- LEMBRANÇAS -
No meio do dia elas surgem...
Me alfinetam
alheias ao que tenho a cumprir.
Me levam de um lado a outro
costurando cenas pelo tempo.
Me lançam em poço de remorsos
e alegrias súbitas.
Sem aviso e sem preparo
naufrago em viagens
da sarjeta aos céus.
Não sou senhora de mim
antes cacos colados
Ao toque da ampulheta.
Elas me apontam
a qualquer hora
apenas para mostrar
O que sou.
Apenas para lembrar
quem eu sou!

(Tâmara Rossene)

(No frio de Vitória da Conquista, em 2008, casa de Mamy, em pose para Celo e em poeminha meu)