tag:blogger.com,1999:blog-45356657703812935552024-02-21T00:04:50.039-08:00Chocalho de Dentrocrônicas, poesias, fotografias, escritas cotidianas para não sucumbir...Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.comBlogger296125tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-35092152454171436962023-04-04T07:42:00.009-07:002023-04-04T07:58:39.862-07:00<p><i> </i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjENuKzO2C6l_dttVMWGOGhWY6_lzV3HJ2mV75_4Q1BbJgnRGRQKtyB-ny65HUhZ4xXHNpWImMRZGKqBm_SxgxNFbGrvIhhHXG0OxAdmhl9PDVmzAZFiY1CbsJDm5zg6CWCZp4Wm02rGF3AQRfewEKoqJD4oV7ZnqndPTLB9fsV0mXguVfWU4xnEfaEqw/s1600/amanhecer2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><i><img border="0" data-original-height="1200" data-original-width="1600" height="480" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjENuKzO2C6l_dttVMWGOGhWY6_lzV3HJ2mV75_4Q1BbJgnRGRQKtyB-ny65HUhZ4xXHNpWImMRZGKqBm_SxgxNFbGrvIhhHXG0OxAdmhl9PDVmzAZFiY1CbsJDm5zg6CWCZp4Wm02rGF3AQRfewEKoqJD4oV7ZnqndPTLB9fsV0mXguVfWU4xnEfaEqw/w640-h480/amanhecer2.jpg" width="640" /></i></a></div><i><br /></i><p></p><p><i><br /></i></p><p style="text-align: justify;"><i>Na minha infância, quando eu morei um período em Barreiras, chegar ao povoado da Passagem, era sinal de que eu estava prestes a abraçar meus avós, Anália e Miné. A travessia de balsa até a outra margem, eu fazia com os dedinhos se movendo nas mãos entrecruzadas, coração aos saltos, doida prá sentir o cheiro do escaldado de farinha, o gosto do bolo de nata, dos bolinhos de comida na gamela; prá ouvir meu apelido "Minha", sendo pronunciado com tamanho afeto. O trajeto de 40 minutos durava uma eternidade.. Mas até alcançar o outro lado, o rio me acolhia como se me ninasse, no balanço da embarcação, enquanto a saudade ia ficando cada vez menor, como as pessoas observando na beira d'água. Chegar lá, significava ser rodeada de encantamento e amor.</i></p><p><i>Hoje eu vi o dia amanhecer nesse ponto, onde meu peito marcava o compasso da chegada, naquela época, quando a Passagem era um fervilhar de pessoas, tão distante da solidão do agora. A alvorada que surgiu, lançou luzes sobre minhas memórias, da menina feliz que eu fui um dia. Da ponte que interliga esse território, ao da mulher sedenta que me tornei</i></p><p><i>Amanhecer nesse ponto,me fez recordar o poeta, que disse:"eu quero meus braços abertos, de frente prá o rio''.</i></p><p><i>E me devolveu o sopro do sentido de chegar e permanecer nestas bandas ribeirinhas. Porque hoje eu também cruzo um rio. E embora esse rio que ora atravesso seja revolto, eu também tenho encontrado amor e acolhimento a minha volta.</i></p><p><i>Obrigada ao moço gentil, que cruzou estas águas;me transportou, fotografou e cedeu a fotografia,além de aquecer o coração da menina e da mulher, abrindo este portal...</i></p><p><br /></p><p><br /></p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-15539015007799063472023-01-03T12:34:00.000-08:002023-01-03T12:34:15.235-08:00<p> Há um ano atrás, eu iniciava 2022, viajando para Caldas Novas - Go. Seis meses pós avc. Completamente dependente da cadeira de rodas e das pessoas. Precisando de ajuda até para ir ao banheiro. Dormindo de fralda e com um plástico sobre o colchão. Insegura, frágil, amedontrada. Com nedo de entrar até na piscinaS endo carregada por Gabriel e Mariana(dois loucos...rs), prá todos os lugares.Um ano depois, 2023 me encontra liberta da cadeira e das fraldas. Independente no banheiro e andando de bengala. Ainda insegura e frágil. Ainda temerosa. Mas certa de que, em passos vacilantes, eu sigo mais um ano. E grata a Deus e a todos que tem trilhado esse caminho comigo, ainda que me olhando a distância (sim, há os que preferem estar assim, e tudo bem)...</p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgssTslga5FHT4QSh0lwOvpkJtGnm3b_TD71EnqsyGTjWXIB0dmQMEi1bPFTp4E2bk8canDheiL3jJZLXiD1ldXXEiZzDYardogI5Uzo8bFPS0vnK5Neev3CiRNXrB7shUTw7oVelYdEPH-cdPFgeOrjj9sK8CG-QhLZ0DzmyvE9cWz33QfwIU2hV4jOg/s1599/fanonovo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1599" data-original-width="1186" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgssTslga5FHT4QSh0lwOvpkJtGnm3b_TD71EnqsyGTjWXIB0dmQMEi1bPFTp4E2bk8canDheiL3jJZLXiD1ldXXEiZzDYardogI5Uzo8bFPS0vnK5Neev3CiRNXrB7shUTw7oVelYdEPH-cdPFgeOrjj9sK8CG-QhLZ0DzmyvE9cWz33QfwIU2hV4jOg/s320/fanonovo.jpg" width="237" /></a></div><br />...<p></p><p><br /></p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-36155872302408827422022-11-26T11:18:00.001-08:002022-11-26T11:18:28.451-08:00<p> Diário do avc - parte 1:</p><p>Eu sempre acho que tudo começou com o covid. E os próprios médicos levantaram essa possibilidade, mas não foram conclusivos .</p><p>Em meio ao pânico da pandemia, eu descobri que alguns servidores do fórum haviam sido contaminados. Como o contato entre eles e os servidores da Promotoria era frequente e soube que a Prefeitura estava testando muita gente, comecei uma batalha, para que nós fossemos testados. No dia do teste, acordei com a dor de garganta que começara na véspera. Já no LACEN, crise de ansiedade e seus sintomas conhecidos há dias: respiração ofegante, mãos suando muito, mau estar estranho. Comecei a pensar: e se eu tiver com covid? Passei a fazer um check list mental: não havia tido contato com ninguém contaminado; saí de casa para trabalhar apenas no dia anterior, depois de um mês enclausurada; usei a máscara sempre; lavei as mãos com frequência, etc., etc. Mas nos últimos dias um cansaço... Passei o dia no itmo insano de sempre. Fazer comida, limpar a casa, cuidar para que tudo estivesse impecavelmente no lugar. A voz de Mariana em minha cabeça: mamãe, você tem toc. Conferi a posição das plantas. Na geladeira os potes todos arrumados. Pia limpa. Era final de tarde.Para um carro na porta. Marcelo atrás sorrindo largo. Reconheço o uniforme temido da vigilância sanitária em duas mocas que pedem licença e entram na sala. Eu começo a falar que não posso estar de covid. Elas sorriem sem graça e confirmam ditando instruções. Pedem meu braço e colocam nele uma pulseira amarela. Marcelo e meu filho João recebem pulseiras azuis. Elas selam nosso compromisso com o isolamento. As meninas saem e nós nos olhamos desesperados. Concordamos que eu ficaria no quarto confinada. Eu entro no quarto e tranco a porta atrás de mim, sob olhares assustados. Eu ficaria por 15 dias trancafiada naquele quarto, recebendo as refeições na porta,enquanto me segurava para não me jogar nos braços dos dois moradores daquela casa, que se colocavam a quilômetros de distância da fonte de contaminação. Soube então, que o vigilante da Promotoria também estava de covid, mas mal nos falamos na véspera, quando precisei ir até o meu local de trabalho, então de quem partiu o contágio, era uma incógnita para nós.</p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-51944292856679909092022-11-26T11:18:00.000-08:002022-11-26T11:18:18.038-08:00<p> A moça me contou essa estória com um sorriso maroto parando nos lábios...</p><p>Um rapaz passava todos os dias em sua porta lhe prometendo viagens para a capital. Ela o ignorava. Tempos mais tarde soube que ele sempre ia a capital para tratamento de um problema mental. Mas nunca demonstrara qualquer sentimento por ele,embora distribuísse sorrisos todas as vezes em que o via, porque o achava engraçado.</p><p>Fato é que num certo dia viu o rapaz aos cochichos com o seu sobrinho de oito anos. Alguns dias mais tarde, o garoto entrou em casa agarrado a um saco de salgadinhos e um refrigerante, cabeça baixa. Ela pediu a ele: me dá um pouco? me dá um gole? </p><p>O garoto aumentou o passo, abaixou mais ainda a cabeça e disse um -eu não posso, quase sem que a voz saísse direito. Depois falou baixinho: eu não posso, porque eu vendi a Senhora. Como é o negócio, menino?</p><p>O garoto nervoso explicou, apontando o tal sujeito: Por causa que ele disse: ajeita sua tia prá mim que eu te dou um negócio. Eu disse a ele, então me dá o negócio primeiro.</p><p>O menino suspirou e mostrou então o salgadinho e o refrigerante nas mãos.</p><p>Só aí a história ficou esclarecida para a moça. Que passou a pensar sorridente, no quanto valia para aquela criança, a quem devotava tanto amor. A essa altura, já não valia mais nada, pois o garoto já acabara com o fruto da negociação. </p><p>Quando a moça me contou esse caso e me apresentou o menino, a minha curiosidade fez com que eu perguntasse a ele, porque vendera a tia. O garoto se apressou a responder que estava com fome.</p><p>Sim, meus caros, porque aa crianças não tem fome apenas da comida que lhe chega a mesa, mas de tudo aquilo que as vezes não tem acesso e sentem vontade. Como certos brinquedos, certas guloseimas. E porque não, salgadinho e refrigerante. Mesmo que para isso, tenham que vender a própria tia.</p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-13768384539050100172022-10-22T08:33:00.006-07:002022-10-22T09:18:43.443-07:00<p><i><span style="color: red;"> Me sinto presa nesse corpo</span></i></p><p><i><span style="color: red;"> pós avc.</span></i></p><p><i><span style="color: red;">Meio paralisado. </span></i></p><p><i><span style="color: red;">Estagnado.</span></i></p><p><i><span style="color: red;">A mercê.</span></i></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><i><span style="color: red;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0qQEMJOfEURmQfm9DUlvqtKr-LlJgG5PcKgLxTb_XXmzztKEWro9drezCAsydZRb2D_nr6nqJj-pb-8RVy9-MepQ7NB1qmxIWhlSDPMyTsVvr_VZhH8r8rjtxP_F44VDux19O9YMYznNnLAXx8VsNmOg_MW5R5wcPsvRGnCbzF5q2NncQTF80bn_Mnw/s5184/IMG_2992.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3456" data-original-width="5184" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj0qQEMJOfEURmQfm9DUlvqtKr-LlJgG5PcKgLxTb_XXmzztKEWro9drezCAsydZRb2D_nr6nqJj-pb-8RVy9-MepQ7NB1qmxIWhlSDPMyTsVvr_VZhH8r8rjtxP_F44VDux19O9YMYznNnLAXx8VsNmOg_MW5R5wcPsvRGnCbzF5q2NncQTF80bn_Mnw/s320/IMG_2992.JPG" width="320" /></a></span></i></div><i><span style="color: red;"><br /></span></i><p></p><p><i><span style="color: red;">E em minhas memórias</span></i></p><p><i><span style="color: red;">só você.</span></i></p><p><i><span style="color: red;">Nessa cela</span></i></p><p><i><span style="color: red;">do sofrer...</span></i></p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-90399057173890852582022-10-05T17:08:00.003-07:002022-10-06T05:51:41.017-07:00<p> Em minha solitude</p><p>eu encontro você.</p><p>Mão, beijo, cheiro,</p><p>calor.</p><p>Nossa solidão foi o alarido.</p><p>Sua solitude</p><p>nos afastou...</p><p><br /></p><p><br /></p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-81204123791374787972022-09-21T15:18:00.002-07:002022-10-06T05:52:57.885-07:00<p>Memórias políticas I </p><p><br /></p><p>Das memórias de minhas andanças em campanha política com vovô Minrvino, lembro quando era preciso escrever o voto nas cédulas e os candidatos mandavam fazer umas forminhas de papelão com os números. O eleitor, mesmo analfabeto, a custa de muito treino, percorria a forminha com a caneta e aprumava o voto.</p><p>Num certo dia, eu não sei em que comunidade estávamos, mas eu era uma criança de uns nove anos e já havia aprendido como se treinava um eleitor a exercer a cidadania. Me trouxeram uma moça na casa dos trinta e poucos anos e me mandaram ensiná-la. Coloquei a forminha de papelão em cima do papel que simulava uma cédula. A moça, que tinha problemas mentais, transpirava muito. Eu segurei em suas mãos trêmulas e fui ajudando-a a perccorrer os números com a caneta. Primeiro Prefeito, depois vereador. Ela dava risinhos nervosos. Eu, didática, dizia você consegue, falta pouco. A moça ria mais ainda e suava. Eu olhei os seus riscos tortos e senti compaixão. Duas semanas depois eu soube que a moça havia sido encontrada afogada num riacho. Eu senti vergonha. E pedi perdão em silêncio por tê-la inquietado em seus últimos dias. E assim eu segurei nas mãos de tantos idosos igualmente trêmulas, envergonhados por não saberem se desvencilhar sozinhos no papel. E apesar de ajudá-los a vencer o medo, muitas vezes, era eu quem sentia vergonha, em ocupar aquele lugar, num país repleto de analfabetos e desiguais. hoje eu sinto ter aprendido essa lição tão cedo...</p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-29938634927371993462022-03-23T08:31:00.002-07:002023-05-08T15:54:47.669-07:00<p> Um ano finda. Eu recomeço... Muito de mim já terminou. Pouco ainda é recomeço. Mas vivo o movimento do reaprender. Pós AVC, tudo é recomeço. Todo dia reaprendo. A andar. A sentar. A socializar. A existir perante o mundo. E o mundo é esse poço. Onde me afundo. E reexisto.. Um tanto de mim resiste. Outro tanto INSISTE nessa lógica. Desde o dia em que mal acordei e já era noticiada com o coágulo estampado numa máquina. Desde quando metade de mim era paralisia. Desde aquele dia eu sou confusão. Metade de mim sabe que existe. A outra metade RESISTE nesse jogo de insistência. E desde sempre nuca mais serei a mesma. Eu insisto na incerteza. Como todo mundo. Afundo nesse poço profundo. Ah, mundo! Serei feliz? Voltarei a ser eu mesma? Ninguém sabe. Eu luto com todas as armas que me restaram. As garras que desenvolvi antes de me resumir em ANTES E DEPOIS DO AVC. Em minhas memórias, estou impregnada de você. Nós nos transformamos num amontoado de memórias. Recortes que sofregamente alimentamos. Nenhum plano vingou. Mas estamos nos meninos. E eles em nós.Nosso passaporte e fortaleza. A mesa continua posta. E o sonho da rota. Desde antes. E após.</p><p><br /></p><p>Caldas Noovas, 30 de dezembro de 2021.</p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-4053298833377735252021-07-18T10:02:00.002-07:002021-07-18T10:02:55.568-07:00<div style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;">Fiquei alguns minutos olhando para ele, deitado em posição fetal. Nos últimos dias em que o visitei, só o via assim. Abraçado ao travesseiro, passando as mãos frágeis sobre ele, com os olhos perdidos. Parecia um bebê que acabara de chegar ao mundo. E assim eu fiquei por minutos, observando a vida se esvaindo e meu avô tentando segurá-la, com as forças minguadas que lhe restavam. Meu avô, que atravessou a minha existência como um homem enérgico, agora atravessa a minha alma, quando o vejo se agarrando a linha tênue de se manter vivo, embora tenha perdido as forças para se manter de pé. Vejo os olhos inquietos, como se perscrutasse o silêncio, será que esmiuça as memórias? será que questiona o que virá? ou será que espera, enquanto engole as palavras, que não consegue pronunciar? Ele pede um abraço e eu sinto tristeza. Depois de todas as lutas, será que no final do labirinto, o único desejo e consolo que nos resta, é um abraço?</span></div>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-72130242190762199122021-04-26T07:49:00.002-07:002021-04-26T07:49:23.255-07:00<div style="text-align: left;"><span style="font-family: courier;">Quando acordar agradeça<br />mas não se esqueça<br />dos que perderam a voz<br />por falta de crença<br />dos que não encontram motivos <br />para persistência<br />dos que só conhecem a indiferença.<br />Quando acordar agradeça<br />mas não se esqueça<br />das infinitas cabeças<br />dispostas sobre pratos vazios.<br />Quando acordar agradeça<br />mas não guarde a tola pretensão<br />de que esse rito lhe coloca acima<br />dos que já perderam a fé e a esperança.<br />Dos que colecionam tantos dissabores<br />que cada palavra positiva<br />naufraga<br />no vão infindo<br />das dores...</span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: courier;"><br /></span></div><div style="text-align: left;"><span style="font-family: courier;"> <span style="font-size: x-small;">(Tâmara Rossene)</span></span></div>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-9338217812268298902021-04-04T08:15:00.002-07:002021-04-04T08:15:25.657-07:00<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOeGAnXd3BKs-MHMGPZUB8kVvkJlzOYVUZSOgwBaw8MhEDHlrl8sewjfcBIgrjSNyuDBubG8EkMuC4hjilWDqvYHLIvxbYiQOqlNUv5U0yjD26B2KKWr4PCoUEDhqpZurfNM1xTjJ7KZNE/s1080/Muitos+s%25C3%25A3o+os+crucificados+de+cada+dia...+Os+que+s%25C3%25A3o+explorados+em+sua+labuta+pelo+p%25C3%25A3o.+Os+que+recebem+pedras+que+lhe+s%25C3%25A3o+atiradas+porque+fogem+a+regra+dos+estere%25C3%25B3tipos+e+existem+nos+limites+da+diferen%25C3%25A7a..jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiOeGAnXd3BKs-MHMGPZUB8kVvkJlzOYVUZSOgwBaw8MhEDHlrl8sewjfcBIgrjSNyuDBubG8EkMuC4hjilWDqvYHLIvxbYiQOqlNUv5U0yjD26B2KKWr4PCoUEDhqpZurfNM1xTjJ7KZNE/w400-h400/Muitos+s%25C3%25A3o+os+crucificados+de+cada+dia...+Os+que+s%25C3%25A3o+explorados+em+sua+labuta+pelo+p%25C3%25A3o.+Os+que+recebem+pedras+que+lhe+s%25C3%25A3o+atiradas+porque+fogem+a+regra+dos+estere%25C3%25B3tipos+e+existem+nos+limites+da+diferen%25C3%25A7a..jpg" width="400" /></a></div><br /> <p></p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-53755261986134011712021-04-04T08:14:00.001-07:002021-04-04T08:14:13.025-07:00<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLdNft8SZNX4ygl3HeNT_DFAzXHhBnSnkPzM2G3vOuiRduH24AQ-3CCnOTpr9QpML5ODUZj5IM4LFc06YLDHqQ9rKNYG9ZcURRh-MhkzEooQeuUAwmi2UIB526KqL_Tnz6UazdPiUknQy6/s1080/Chocalho_25_03.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjLdNft8SZNX4ygl3HeNT_DFAzXHhBnSnkPzM2G3vOuiRduH24AQ-3CCnOTpr9QpML5ODUZj5IM4LFc06YLDHqQ9rKNYG9ZcURRh-MhkzEooQeuUAwmi2UIB526KqL_Tnz6UazdPiUknQy6/w400-h400/Chocalho_25_03.jpg" width="400" /></a></div><br /> <p></p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-2888254781039468122021-03-25T17:12:00.002-07:002021-03-25T17:12:25.646-07:00<p> </p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">Observo a
Praça vazia, no cais, que recebeu o nome de Mãe Josina. Sempre que pergunto
quem foi aquela mulher, eu escuto apenas que foi uma parteira. Há anos indago
sobre a sua origem, a sua família, o seu rosto. E a única palavra que a define
é ter sido parteira. Me lembrei que certa vez o meu pai me contou, que
colocaram o nome na Praça, como se reverenciassem “aquela mulher”, mas que a
imagem que mais marcou a existência dela para ele, foi justamente a sua morte.
E descreveu como acompanhou o enterro triste, com duas ou três pessoas, num
cenário empobrecido, sem muitas flores, nem velas, nem rezas, nem as crianças
que chegaram ao mundo por suas mãos, chorando por ela. Por isso quando ele
ouviu o nome que levaria a Praça, as homenagens, as reverências, a placa, os discursos,
ele recordava com tristeza, que ela se fora como se não houvesse existido... <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">Essa
lembrança me levou até o meu tio Pedro Américo, irmão do meu pai e assim como
ele, guardião de tantas memórias, de uma Ibotirama distante! Foi através dele,
que descobri que a primeira Praça a ter esse nome, foi a dos Correios, onde
hoje é a Praça da Bandeira. Ele vai me contando, que Mãe Josina era filha de
Oliveira dos Brejinhos. Uma mulher negra, certamente descendente de escravos,
que nascera pelos idos de 1800 e pouco. Não sabiam quem eram os seus parentes, por
quem fora criada, nem por quais ruas ou calçadas vivera. Ela não teve filhos. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Era uma mulher de vida livre, num tempo em que
essa escolha, era pecado mortal. Contam que foi parar em Ibotirama, depois de
uma briga feia, entre dois homens, pelos carinhos dela. Nesse ponto, fiquei
pensando quem seriam esses homens, se foram carinhos desinteressados e quais os
limites da vida livre que levava. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">O meu tio
afasta o meu pensamento e vai me mostrando a Josina que conheceu. A que tinha
ao que parece, vinte e poucos anos, quando seguiu o seu rumo a pé, de Oliveira
dos Brejinhos até Ibotirama, porque naquela época não havia transporte, esse só
chegou através de um caminhão, alguns anos mais tarde. A Josina que chegou a
Ibotirama e se dedicou totalmente a ajudar as mulheres (mesmo aquelas que condenariam
o seu passado), a aliviar as dores e as angústias do parto e a receber em seus
braços, os meninos que irrompiam nesse mundo. Meu tio Pedro foi um deles. Me
diz que Josina foi a sua “mãe de pegação”. Assim como foi dos meus outros tios:
Irineu, Filemon, Zé Baga, Nita e Maria, a menina que durou apenas três meses de
vida. Sinto admiração e respeito em sua voz, quando me conta que Mãe Josina
curou o umbigo deles com óleo de mamona, mas que o de Tia Nita foi curado com
mercúrio cromo, que ainda era uma substância pouco utilizada na cidade e as
mães aceitavam o seu uso com desconfiança. E vai desfiando o seu fio de
lembranças, imagino que olhando ao longe, como se estivesse na rua Primeiro de
Janeiro, ouvindo os passos silenciosos dos fantasmas do seu tempo, vagando por debaixo
dos pés de manguba. Deslizando silenciosos sob a mangueira que resiste na Praça
Deraldino Lino de Souza (segundo ele, a árvore mais antiga de Ibotirama), do
tempo em que a cidade ainda tinha cancelas a lhe guardar (uma perto da ponte,
outra no Vale do Amanhecer e outra próxima a estrada da Lapa). Recorda daquela
mãe que primeiro o tomou nos braços, tomando café na casa da finada Dona Ruzu,
de quem era muito amiga. Das vezes em que a encontrava na rua e assim como
faziam muitos moradores da cidade, pedia-lhe a benção e beijava-lhe a mão. Reflete
que Mãe Josina fez desse ofício em ajudar na chegada das crianças, quase sempre
sadias, um sacerdócio. Depois finaliza, saudoso das memórias que lhe escapam
das mãos, concluindo que Mãe Josina faleceu nos anos setenta, mas sem muita
certeza do ano. Me diz que a data pode ser confirmada no cartório, onde
certamente deve constar a certidão de óbito. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;">Volto a
Praça. Um lugar de todo mundo. E de ninguém. Por onde chegam crianças, chorosas
ou felizes. Por onde caminham mulheres livres. Por onde os bancos guardam angústias
e alegrias. Assim como foi Josina. Mãe de todo mundo. E de ninguém, ao tomar
nos braços, os filhos de outros. Ao trazer ao mundo crianças chorosas ou
felizes e entregar nos braços de outras.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>Ao curar as dores e as alegrias da procriação e depois seguir esquecida.
Assim como a Praça, que depois de servir de lugar de abrigo, de cura, do
despertar de sentimentos diversos, se esvazia, na sombra da noite, assim como
nebulosas, sobre as lembranças...<o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRazC9XXReRMhLmfMqOLBVEpHFJi9293EvZ8uPfYa_fgqYnmjq309OjFwv1mED_WDV1Uha5DTNNmW_4sldsQEEC8ofsnbKRTRajrlHTD8h9LYKg-IDuhJskXuuCajj3vLBMr9azjWh-dNG/s960/Pra%25C3%25A7a+M%25C3%25A3e+Josina.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="720" data-original-width="960" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhRazC9XXReRMhLmfMqOLBVEpHFJi9293EvZ8uPfYa_fgqYnmjq309OjFwv1mED_WDV1Uha5DTNNmW_4sldsQEEC8ofsnbKRTRajrlHTD8h9LYKg-IDuhJskXuuCajj3vLBMr9azjWh-dNG/w400-h300/Pra%25C3%25A7a+M%25C3%25A3e+Josina.jpg" width="400" /></a></div><br /><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Arial;"><br /></span><p></p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-81562665352463761782021-02-21T08:58:00.002-08:002021-02-21T08:58:15.074-08:00<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWFj3b9i6sx63_g98H5kyKOt8G2j8BbvF8PyvDeVltxThBYJCGocAHO4dRqSL_IauRmJng7LukIszGZKke2vC78vU2d2H2DJttx3GknUHySV2_uT6jqYK-QLA5mx8QgrXW8tLhY0Xv9s2X/s2048/GEDC7466.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: courier;"><img border="0" data-original-height="1536" data-original-width="2048" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWFj3b9i6sx63_g98H5kyKOt8G2j8BbvF8PyvDeVltxThBYJCGocAHO4dRqSL_IauRmJng7LukIszGZKke2vC78vU2d2H2DJttx3GknUHySV2_uT6jqYK-QLA5mx8QgrXW8tLhY0Xv9s2X/w400-h300/GEDC7466.JPG" width="400" /></span></a></div><span style="font-family: courier;"><br /> </span><p></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: courier;">Nas
últimas vezes em que visitei o meu avô, passados alguns minutos, ele sorria e
repetia a frase: “vovô, eu tô com três toisas. Tansada, tum sede e tum fome”.
Era a clássica frase de uma das histórias da minha infância.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: courier;">Sexta
feira do final da década de 70. Ás cinco e pouco da manhã, vovô Minervino me
levou junto com ele em um táxi, da Vasco da Gama a Igreja do Bonfim, para
assistirmos a primeira missa do dia. Após a celebração, entre um bocejo e
outro, que eu tentava esconder, ele parou nas proximidades da colina sagrada,
para comprar um buquê de flores, para a segunda parada do nosso trajeto: Monte
serrat, na casa da primeira professora dele, Dona Corina. No caminho, eu ia
ouvindo a sua narrativa, de quando aquela moça chegou até a Canabrava, zona
rural de Ibotirama, para dar aulas para meninos como ele, que precisavam ser lapidados.
Ali ensinou leitura, escrita, oratória e até normas de etiqueta. Eu ia
imaginado cada cena, intercalando o olhar entre ele e as flores, apertadas mais
fortes nas mãos do meu avô, a cada lembrança relatada. Da casa da heróica Corina,
da qual infelizmente não me recordo do rosto, nem da voz, partimos para o
Comércio. Paramos no escritório de um dos amigos dele (me parece que o ilustre Dr.
Marcelo Duarte) e ali eu passei não sei quanto tempo, observando como o menino
da Canabrava, ao falar, se colocava em pé de igualdade, com uma figura que ele
me disse ser de tamanha importância. Saímos dali e subimos o elevador Lacerda. Descemos
a rua Chile, subimos a Avenida Sete. Chegamos até o quartel da Mouraria, onde
fizemos mais uma parada. Depois fomos até uma loja de tecidos, onde o meu avô
passou algum tempo escolhendo cortes de panos para vovó Anália. Um deles (um
tecido azul claro), foi presente para mim. <o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: courier;">Nesse
ponto, estávamos subindo a rua do Paraíso. Eu, menina frágil, pouco acostumada
a acordar tão cedo e a caminhar tanto num só dia, resistira bravamente até ali,
mas já estava querendo entregar os pontos. Mas tive medo que minha fama de
menina dengosa e cheia de calundus, estragasse tudo e que o meu avô me julgasse
mal e não quisesse mais a minha companhia, em dias como aqueles. Da altura dos
meus seis anos, engolindo as letras, porque parecia ter a língua presa naquela
época, eu usei toda a estratégia que me pareceu mais convincente, para falar
calmamente: - Vovô, eu tô com três toisas. Tansada, tum sede e tum fome. E esperei,
morrendo de medo. Vovô Minervino deu uma gargalhada alta, atraindo a atenção de
quem passava. E mostrou que o restaurante já estava quase a nossa frente. E
essa história foi repetida centenas de vezes por ele ao longo de nossa
existência.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="line-height: 150%;"><span style="font-family: courier;">Hoje
eu fui visitar vovô, que nos seus noventa e um anos, às vezes está lúcido, ás
vezes mistura realidade e fantasia. Quando falei com ele, tive em resposta, um
cumprimento distanciado. Tive medo de não ser reconhecida, depois de uns 20
dias sem vê-lo. Depois de 30 segundos, ele começou a sorrir e disse: “vovô, eu
tô com três toisas”. Sorrimos juntos. E fui percebendo que enquanto ele vai aos
poucos se despedindo, eu sou parte do único fio que permanece e talvez importe:
a memória...<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><o:p><span style="font-family: courier;"> </span></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify;"><span style="line-height: 150%;"><o:p><span style="font-family: courier;">P.S. Essa fotografia foi tirada na Barriguda, há alguns poucos anos. Fiquei de longe, observando ele sentado nesse troco, talvez atento as memórias que lhe visitaram, nesse dia...</span></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="line-height: 115%;"><o:p><span style="font-family: courier;"> </span></o:p></span></p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-62008274449798067782020-11-20T18:55:00.001-08:002020-11-20T18:55:32.727-08:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhGD7Qh8F6KxKU00vekKQmd9Z441xJA3UMEOMcLsPdxkLU9eeD5h4FwXq40YlGwuuURU8-i0GnmF2xCfsN8m3scquZg2ziE2xX722IaYANVzhRVBzfGpeEeDBnjwCmJQcZ3gbT9EWDVazI/s1040/centro_final.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="780" data-original-width="1040" height="300" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhGD7Qh8F6KxKU00vekKQmd9Z441xJA3UMEOMcLsPdxkLU9eeD5h4FwXq40YlGwuuURU8-i0GnmF2xCfsN8m3scquZg2ziE2xX722IaYANVzhRVBzfGpeEeDBnjwCmJQcZ3gbT9EWDVazI/w400-h300/centro_final.jpeg" width="400" /></a></div><p style="text-align: justify;"></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Cambria, serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Ainda me lembro do endereço: Av.
Crispim, 225, Federação. Passamos uns seis, sete anos, naquela casa, em
Salvador. A rua tinha nome de Avenida, mas era uma via muito estreita, de
barro, porque o asfalto só ia até a ladeira e a rua começava bem no pé da ladeira
e a gente já imaginava quando chovia e tinha que sair atolando até o calcanhar. Acho que
casa do tamanho da nossa, com três quartos e uma varandinha na frente, só tinha
a de Jaudira e Agenor, do lado direito da nossa. Com a diferença de que a casa
deles só vivia cheia, com os cunhados, os meninos, as vozes muito altas,
principalmente quando caia a noite. Do outro lado, morava Dona Didi, com cinco
filhos, dos quais só me lembro o nome de Lígia, Eliane e Evandro. Dona Didi era
lavadeira e as meninas ajudavam a lavar e a engomar as roupas. As meninas estudavam à noite e também davam aulas de banca, vendiam geladinho e faziam faxina. Por diversas
vezes, a minha mãe na Faculdade a noite, o meu pai dando aulas e eu me
aventurando no Parque São Brás ao lado delas, subindo e descendo ladeira, em
trechos às vezes escuros, quando iam entregar as trouxas de roupas para as
freguesas. Lígia devia ter uns dezesseis anos, tinha os cabelos curtos e
parecia mais velha, porque era alta e tinha uns quadris largos. Eliane, devia
ter uns quatorze e também era alta, muito magra e me dava medo com aqueles olhos
fixos, quando nos escondíamos nas ribanceiras, brincando de salve latinha. Às
vezes me assustava dizendo que se eu me escondesse perto do terreiro que ficava
próximo, iriam me pegar prá oferenda. E depois ficava gargalhando, observando a
minha reação. As duas eram negras e acompanhei Eliane por diversas vezes, como
ela dizia, para "passar ferro no cabelo". Eu ficava admirada com a
coragem dela, porque eu tinha certeza que o cabelo queimava naquele ir e vir do
ferro, por causa do cheiro de queimado. E perguntava se ela não sentia o ferro
encostando na cabeça. Mas Eliane só sorria para o espelho que segurava nas mãos, admirando o efeito no cabelo. Nessa época
eu tinha lá pelos oito anos. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Cambria, serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Num domingo elas pediram a minha mãe
para me levarem a um passeio no centro da cidade. E lá fomos nós pegar o ônibus
no final de linha da Federação, ali perto da rádio Transamérica, conversando e
rindo alto, em direção ao Campo Grande. Me mostravam as pessoas da janela,
falavam com conhecidos e iam me explicando o que julgavam importante pelo
caminho. Descemos na frente do Teatro Castro Alves e paramos no pipoqueiro para comer aquela pipoca que eu só vejo em Salvador, com a camada generosa de
manteiga derretida e o coco ralado grudando no brilho da manteiga. Eu me sentia
livre e feliz andando no meio das duas, perto da estátua do Caboclo. Num minuto
uma ajeitava o meu vestido, no outro a outra tirava o meu cabelo do rosto. E
sorriam com aqueles dentes muito brancos. Eliane sempre com aquele ar meio
sarcástico. Resolveram seguir para a praça da Sé. E quando estávamos caminhando
ali perto do quartel, elas se entreolharam e cochicharam alguma coisa que eu
não entendi. E prosseguiram entre cochichos e expressão séria. Até o olhar
irônico de Eliane sumiu. Eu não entendia, mas tive medo de indagar. Elas
pararam de repente e me perguntaram: Se a gente encontrar alguma colega sua,
com a família e elas perguntarem quem somos nós, o que você vai responder? Eu
fiquei pensando e não tinha resposta. Mas no fundo eu sabia do que elas
falavam. Sabia que não podia dizer que eram da família, porque a resposta não
seria aceita. E tive medo de responder. E senti uma tristeza enorme. Porque
ninguém havia me falado sobre preconceito ou racismo, mas no fundo eu sabia que
não éramos iguais, nem as pessoas nos considerariam assim. E devem ter se
passado dois minutos apenas e pareciam horas. E elas insistiam. Eu tive medo de
falar a verdade e perder a companhia das meninas que me faziam parecer livre. E
meus olhos se encheram de lágrimas. E eu respondi: Que uma é minha tia e a
outra colega, ou que são minhas amigas? E elas disseram quase a um só tempo: não, você
não pode dizer isso! E Lígia encontrou a resposta que lhe pareceu mais
convincente: Diga que eu sou a lavadeira e Eliane a sua babá. Ou que eu sou a
babá e ela minha irmã. Eu balancei a cabeça afirmativamente, entre choro e
desespero, misturado a um sentimento que eu não sei bem descrever. E elas
reafirmaram a resposta que deveria ser dada. Nós três ficamos aliviadas com
aquela solução. E recobramos novamente o sorriso e seguimos felizes. <o:p></o:p></span></p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: Cambria, serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;">Hoje, lembrando dessa história, eu fico
pensando em como aquelas meninas estavam acostumadas aquele lugar em que se
colocaram, para não sentirem ainda mais as garras do preconceito. Preferiram se
lançar no quarto dos fundos, das criadas, dos subalternos, para não serem
julgadas por passearem na cidade com uma menina branca, vizinha da mesma rua,
porém situadas em espaços distintos. Depois disso descemos a Castro Alves,
subimos a rua Chile, descemos o elevador Lacerda, </span><span style="font-family: Cambria, serif; font-size: 12pt; text-align: left; text-indent: 35.45pt;">andamos pelo terreiro de Jesus, pelo Pelourinho, numa aventura que jamais
esqueci, porque parece que ninguém nunca mais me mostrou aqueles lugares daquela forma. E elas agitadas, mostrando aos meus olhos de menina deslumbrada, a
cidade sob um outro ângulo. Agora confortáveis por terem (elas mesmas) lançado
sobre si a capa da invisibilidade, para que eu pudesse ocupar o lugar que
julgavam que deveria ser destinado apenas a mim... Apenas a mim... </span></p><p style="text-align: justify;">
</p><p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 6.0pt; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: "Cambria","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"> </span></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-53569650073927494052020-09-20T20:14:00.001-07:002020-09-20T20:14:33.979-07:00<p> </p><p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHI2EQZjqgM1J1TlswjMdTaw0bX79VEfTyyPc0WzNjSzvG3Y2veBoqayazitgmuQa7hpWbkp-eH56QkkeUasTQ_rgq9s7FHPXuAZ1HiWHEbOZ7bwH6YrSh7gl0jc6pCDrzPWXRxvgHvVKt/s853/mulher1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="853" data-original-width="853" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHI2EQZjqgM1J1TlswjMdTaw0bX79VEfTyyPc0WzNjSzvG3Y2veBoqayazitgmuQa7hpWbkp-eH56QkkeUasTQ_rgq9s7FHPXuAZ1HiWHEbOZ7bwH6YrSh7gl0jc6pCDrzPWXRxvgHvVKt/w400-h400/mulher1.jpg" width="400" /></a></div><br /><span style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span><p></p><p style="text-align: center;"><span style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;">Antes que o dia termine...</span></p><span style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">eu quero chorar por todas as mulheres</div></span><span style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">que misturaram as suas lágrimas</div></span><span style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">ao sabão escorrendo no tanque</div></span><span style="background-color: white; color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">quando as tantas da madrugada</div></span><span class="text_exposed_show" style="background-color: white; display: inline;"><div style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; text-align: center;">se sentiram sozinhas</div><div style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; text-align: center;">e pensaram que não tinham mais perspectivas.</div><div style="text-align: center;"><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><br /></span></div><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">Eu quero chorar por todas aquelas</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">que silenciaram seus gemidos</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">quando as horas avançavam</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">porque não eram de prazer</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">e adormeceram em travesseiros molhados.</div></span><div style="text-align: center;"><br /></div><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">Antes que o dia chegue ao fim</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">eu quero chorar por todas aquelas mulheres</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">que continuaram submissas e violentadas</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">porque se sentiram impotentes.</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">E por todas que no auge da fragilidade</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">sentiram a dor das pedras que lhes foram atiradas.</div></span><div style="text-align: center;"><br /></div><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">Eu não quero que o dia finde</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">sem que eu pranteie por cada uma</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">que desistiu dos seus sonhos</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">que afogou seus desejos</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">que acorrentou os seus passos</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">a dores que só mulheres sabem e sentem.</div></span><div style="text-align: center;"><br /></div><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">Antes que esse dia se encerre</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">eu quero o choro primeiro</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">da menina rejeitada apenas por se fazer mulher</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">e quero o choro derradeiro</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">da mulher que se levantou</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">e seguiu sem olhar para trás.</div></span><div style="text-align: center;"><br /></div><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">Eu quero chorar pelas mulheres da família</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">pelas estranhas</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">e pelas conhecidas.</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">Por aquelas que não estão mais vivas</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">e pelas que seguem mortas, em vida.</div></span><div style="text-align: center;"><br /></div><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">Antes que caia a noite e o dia se despeça</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">eu quero chorar por todas nós</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">porque assim existimos</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">em dias que começam, terminam</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">recomeçam</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">em dores que de igual forma se iniciam</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">e se perpetuam</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">na sina crua de ser.</div></span><div style="text-align: center;"><br /></div><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">E depois do pranto,</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">ainda que ele se encerre na madrugada</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">eu seguirei mulher</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">tendo no meu peito</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">as muitas dores</div></span><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">lavadas.</div></span><div style="text-align: center;"><br /></div><span style="color: #1c1e21; font-family: Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px;"><div style="text-align: center;">(Tâmara Rossene)</div></span></span>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-66402185575721361692020-09-13T09:38:00.000-07:002020-09-13T09:38:08.841-07:00<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEillX22GwoJo3xN34v3zc9qsQMcQghJcRS-q2kdX1-3lhANuJKppJb90yMzd3n-VIPopvHS9Rtb6Tq0tCUojvHEbh7lTH2iSiWARs8wJ8HkMpTYnBA8V91vY9lRyxcQIBI6DfLoVOKdGlw6/s697/npor.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="697" data-original-width="697" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEillX22GwoJo3xN34v3zc9qsQMcQghJcRS-q2kdX1-3lhANuJKppJb90yMzd3n-VIPopvHS9Rtb6Tq0tCUojvHEbh7lTH2iSiWARs8wJ8HkMpTYnBA8V91vY9lRyxcQIBI6DfLoVOKdGlw6/s320/npor.jpeg" /></a></div><br /><div style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;">Eu me lembro como você gostava de ser "milico" (embora não gostasse de ser chamado assim). Talvez porque naquele tempo, você não tivesse se dado conta de que os meninos pretos eram os que mais sentiam as balas dos fuzis dos milicos. Os meninos pretos e de riso largo como era o seu. E me lembro como você se sentia imponente sob a farda caprichosamente engomada. Como se ela o levasse para mais além. Como se houvesse um universo paralelo, onde você se sentisse com mais poderes. E me recordo em como eu media meticulosamente as palavras, porque duvidava daquele lugar e não acreditava naquela lógica, mas não queria silenciar os assobios dos hinos, que você lançava no ar ao amanhecer, porque o seu rosto tinha expressão feliz. Até que você precisou ir mais além, na luta pela sobrevivência. E precisou guardar a farda e o traje de gala (impecavelmente engomados) na lembrança e em nosso guarda-roupa. E foi então que descobriu que a farda não lhe salvaria. Nem do mundo real. Nem mesmo de si. Mas muitos meninos tem os mesmos olhos e o mesmo sorriso que eu conheci em você. E muitos deles também ignoram para onde os fuzis apontam. E ainda sonham que esse universo os salvará...</span></div><p></p><div style="text-align: justify;"><br /></div>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-1581609906203411562020-09-13T09:34:00.000-07:002020-09-13T09:34:10.064-07:00Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-89440192734574272942020-09-09T20:17:00.000-07:002020-09-09T20:17:03.226-07:00<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;">Acordo. Café e correria. Relógio de ponto. Registra papel. Arquiva. Carimba. Pastas no andar de cima. Degraus. A moça senta a minha frente. Ela é um número de protocolo. Eu vomito normas. E prazos. O olho da moça mina. Eu olho o relógio. Registro o ponto. Almoço. Engulo. Corro. Relógio de ponto. Pastas. Enumero papéis. Protocolos. Paro. Por que a moça chorou na minha frente? eu paro de novo e não consigo olhar o relógio. O olho da moça vertendo lágrimas. Descubro que não sou uma máquina. E a moça não era um protocolo. E as normas não consideram as lágrimas. Não durmo. Acordo atrasada. A cadeira vazia a minha frente. Paro e seguro os papéis. Esqueço o relógio. Eu não sou um ponto fixo. E as normas não me prendem mais as engrenagens...</span></p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-55373892633896571252020-08-30T10:21:00.003-07:002020-09-01T19:44:48.347-07:00<div class="_5pbx userContent _3576" data-ft="{"tn":"K"}" data-testid="post_message" id="js_2" style="background-color: white; color: #1d2129; line-height: 1.38; margin-top: 6px;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 6pt 0cm; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">Avaliando as referências dos meus filhos e
ouvindo </span><span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="https://www.blogger.com/blog/post/edit/4535665770381293555/5537389263389657125" title="Mariana Bomfim"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; color: #385898;">Mariana</span></a></span><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;"> falando dos avós, percebi ser uma pretensão
enorme pensar, que os valores que tem estão centrados apenas em mim, em
Marcelo, em nós, como pais. Os meus pais, professores de 40 horas do estado,
morando em Barreiras, a mais de 800 km de Salvador, migraram na década de 70,
com os três filhos pequenos, porque o meu pai havia passado no vestibular de
Direito, da Universidade Católica do Salvador. Um lugar onde o acesso era
apenas para privilegiados, para "os filhos de papai"; os que tiveram
a trajetória traçada desde que principiaram na leitura do alfabeto. Uma
realidade a quilômetros distanciada do cotidiano do meu pai, que não fumava,
mas que levava madrugadas com um cigarro entre os dedos e uma garrafa de café,
para se manter acordado e conseguir estudar.<o:p></o:p></span></span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 6pt 0cm; text-indent: 35.45pt;"><span style="font-family: georgia;"><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">Fomos morar inicialmente no Vale da Muriçoca e ouvi
de um playboizinho daqui de Ibotirama, filho de um dos coronéis da época, que
estávamos morando em uma favela. Para mim, tudo era novidade: a tv em preto e
branco, da Colorado, onde eu podia assistir ao Sítio do Pica pau amarelo; a
praia; o Parque da Cidade; a atmosfera que mudou repentinamente, com eles
fazendo das tripas coração, orçamento apertado e nos colocando em escola
particular, para que a nossa vida, quem sabe, fosse mais fácil. Depois de um
tempo na Vasco da Gama, nos mudamos para a Federação. O meu pai, saía todos os
dias exatamente as 06h:12m (era o horário que o despertador me acordava),
descia a ladeira que dava para o Vale da Muriçoca e subia a do Engenho Velho,
numa aventura a pé até a Faculdade. Em algumas vezes, víamos a figura minúscula
do meu pai subindo a ladeira, e ele nos dava um tchauzinho ao longe. A tarde se
embrenhava como professor, nas aulas na Escola Polivalente do Nordeste de
Amaralina, até depois das 22h. A minha mãe, dava aulas inicialmente na Escola
Cupertino de Lacerda, na Amaralina e depois, passou a lecionar na Escola Mário
Costa Neto, no Parque São Brás, pela manhã e a tarde. A noite, ficava até as 22
e pouco, na UNEB do Cabula, em sua imersão, na primeira turma do curso de Pedagogia,
pagando caro pelo transporte no carro de uma colega, porque não havia ônibus
até o seu destino. Eu tinha uns cinco anos e meio, o meu irmão, três e a minha
irmã, oito. No cotidiano atropelado, nada nos faltava.</span><span style="mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></p>
<span style="font-family: georgia;"><span style="text-indent: 35.45pt;"> Os avós paternos de meus filhos moravam no Nordeste
de Amaralina. O avô, filho de um contínuo do Banco do Brasil e de uma dona de
casa, cursou Economia na antiga Frederico (referência naquele tempo). E a avó,
filha de um mestre de obras e uma empregada doméstica, estudou Biologia, na
UFBA. Negros, de bairro pobre, numa Salvador desigual. Me lembro de Dona Aninha
relatar os livros abertos a luz de velas, para não aumentar a conta de energia
elétrica e as poucas roupas de que dispunha para estudar. Os dois, também
trabalhando 40 horas e com filhos pequenos. Um deles, prematuro de seis meses,
há 45 anos atrás. Os avós maternos e paternos dos meus filhos, venceram
distâncias geográficas, sociais e econômicas. Driblaram o preconceito e as
limitações. Num tempo tão longe das discussões do agora! Minha mãe e minha
sogra, num tempo em que as mulheres não tinham sequer esse discurso afiado, na
ponta da língua e as jornadas se estendiam, pelas noites afora, porque antes de
serem estudantes e profissionais, tinham que cumprir o seu papel de mulher.
Eles sim, são as grandes referências dos meus filhos. Porque depois do exemplo
que nos deram, apenas precisávamos corresponder ao legado grandioso que nos
deixaram...</span><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPLk_i8hELy3LJb0P7HEVoqI5Z2JWYPaLmUSWAah6YBh2JFFYQTQ4aahyphenhyphen1UsJQcEHn5bbTGVMCzjZLslWIqB7rQIHjncgy9o-G-K2jLd70aOKDAVak1dDWx90dWc2CHNv_jRBQ45ULx1bR/s960/meus+pais.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="730" height="512" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhPLk_i8hELy3LJb0P7HEVoqI5Z2JWYPaLmUSWAah6YBh2JFFYQTQ4aahyphenhyphen1UsJQcEHn5bbTGVMCzjZLslWIqB7rQIHjncgy9o-G-K2jLd70aOKDAVak1dDWx90dWc2CHNv_jRBQ45ULx1bR/w390-h512/meus+pais.jpg" width="390" /></a></span></div><span style="font-family: georgia;"><br /></span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuuZAURhyphenhyphen2uB5xF6ai1T8qBtz_Mn4YsxRzSTdOazCR1qN1chmkXAxs5kPuSFudamApF-61gvF4aPHhSJgKe9bXuYWx7APamKwW9efbE4bErMnH5Do9PnmYehucSmXmP0uISAkwAOVZt6y9/s960/sogros.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="font-family: georgia;"><img border="0" data-original-height="960" data-original-width="540" height="640" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjuuZAURhyphenhyphen2uB5xF6ai1T8qBtz_Mn4YsxRzSTdOazCR1qN1chmkXAxs5kPuSFudamApF-61gvF4aPHhSJgKe9bXuYWx7APamKwW9efbE4bErMnH5Do9PnmYehucSmXmP0uISAkwAOVZt6y9/s640/sogros.jpg" /></span></a></div></div>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-61699727301206712372020-08-23T19:45:00.005-07:002020-08-23T20:15:02.862-07:00<p style="text-align: justify;"><span style="font-family: courier;">Por um longo tempo eu fui a filha do meio. Nem numa ponta, nem em outra. Nem revestida da autoridade da mais velha, nem da vulnerabilidade que recaía sobre o caçula. Nem o colo do primogênito, nem o do mais novo. Eu não sei se foi devido a esse lugar em que eu estive, mas muitas vezes eu me coloquei no meio termo. </span><span style="font-family: courier;">Eu permaneci filha do meio, mesmo quando já havia perdido esse posto para a chegada de mais um irmão.</span><span style="font-family: courier;"> E</span><span style="font-family: courier;">scolhi ser filha do meio na minha relação com os outros.</span><span style="font-family: courier;"> </span><span style="font-family: courier;">E aceitei os meios abraços, os meios sorrisos, as meias verdades alheias. Mas chegou um tempo, em que eu me cansei dessa temperatura morna e rompi com a rigidez da posição em que me coloquei. Eu descobri que eu era volátil, como todo o resto. Ora eu tinha a maturidade que se esperava da filha mais velha. Ora a imaturidade do caçula. Ora eu dava passos confiantes. Ora vacilantes. E por muitas vezes eu também estava no entrelugar. Mas nunca mais estive metade, meio, parte. E passei a me retirar, onde não pudesse permanecer inteira...</span></p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-49794965111411533412020-08-21T07:23:00.003-07:002020-08-21T07:37:06.177-07:00<p style="text-align: justify;"></p><p style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;"><span face="" style="color: black; font-family: "open sans", sans-serif;">Quando você passar
pela estrada que leva a Canabrava e avistar essa casa, não a imagine como
qualquer canto, na beira do caminho. Essa é a casa da Ponta da Serra! Foi
construída por meu avô materno, ali pelo início dos anos 70, antes mesmo do meu
nascimento. Esse nome, Ponta da Serra, reverbera em mim, como o outro lado de
um mundo feliz em que eu estive, por alguns anos. Do lado de lá da estrada, passava um riacho. Em alguns dias eu estava lá, água escorrendo em festa,
ao lado de minha irmã, de tia Tina, de minha avó Anália. Em outros, eu estava
com dor de garganta, ou com febre, ou com algum sintoma. A menina frágil e
doentinha, mas sempre cercada. E sempre chorosa. Eu, em minha natureza
dada a calundus, que aos olhos dos que me rodeavam, eram as vontades feitas, mas
que para mim era um misto de incompreensão e tristeza. Uma menina que
tinha mãos e braços a sua volta para acolhê-la, mas que chorava por dentro. E
essa casa, que já existia quando eu passei a existir, era um lugar recôndito,
um lugar onde eu podia olhar em volta e chorar por dentro a vontade, aos três,
quatro, cinco anos de idade. Vovô Minervino em seu jipe verde, a gente batendo a
cabeça na capota do carro, nos solavancos da estrada. <o:p></o:p></span></p>
<p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; line-height: 150%; margin: 6pt 0cm; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 35.45pt; widows: 2; word-spacing: 0px;"><span face="" style="color: black; font-family: "open sans", sans-serif;">Em um desses dias
apareceu uma bola de fogo, no alto, perto da serra. Ora abaixava, ora
levantava. Vovô Irineu, meu avô paterno disparou uns tiros em sua direção e ela apenas subiu
um pouco mais, mágica, sem se explicar. Um misto de curiosidade e medo. Os
adultos passaram dias levantando as suas hipóteses: era ouro encantado, a
espera de um ser corajoso que fosse enfrentar os mal assombrados, as livusias,
que apareceriam até que fosse desenterrado. Era apenas o reflexo de algum tipo
de metal enterrado na serra, enganando nossos sentidos. Não havia energia
elétrica. Estávamos na porta de casa, sob a luz fraca de lamparinas e lampiões
a gás. Eu dormia e acordava no colo de Dé, a doce ajudante de minha avó. E
sonhava que eu corria em direção a bola de fogo, que voava sobre minha
cabeça. <o:p></o:p></span></p>
<p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; line-height: 150%; margin: 6pt 0cm; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 35.45pt; widows: 2; word-spacing: 0px;"><span face="" style="color: black; font-family: "open sans", sans-serif;">Há pouco tempo me surpreendi com alguém falando numa comunidade próxima dessa casa, sobre a
bola de fogo encantada. Ela ainda existe! Resistiu em todos esses anos, mesmo com a
chegada da energia, com muitas casas vazias, com o sumiço das assombrações.
Sinal de que ainda não apareceu nenhum herói disposto a desvendá-la.<o:p></o:p></span></p>
<p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; line-height: 150%; margin: 6pt 0cm; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 35.45pt; widows: 2; word-spacing: 0px;"><span face="" style="color: black; font-family: "open sans", sans-serif;">Eu não sei quando
aquela casa deixou de pertencer ao meu avô. Mas em todas as vezes em que passo
em frente a ela eu volto a ser aquela menina e tenho vontade de chorar por
dentro, todos os choros que engoli, em todos esses anos e chorar de alegria por vê-la inteira, baú guardando minhas memórias, em silêncio. Tenho vontade de chorar por dentro, até que as lágrimas caiam, do lado de fora e
encham o leito do riacho, que também secou...<o:p></o:p></span></p><p style="-webkit-text-stroke-width: 0px; font-variant-caps: normal; font-variant-ligatures: normal; line-height: 150%; margin: 6pt 0cm; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration-color: initial; text-decoration-style: initial; text-indent: 35.45pt; widows: 2; word-spacing: 0px;"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGwKhmWzeRf8L59AxFgIJ11i5jQsF4-oVxRaqxbjIOwkKMUtWzYVFcY5Swqm9pFWNGh62hg3LX__ARshQpTKE1k1KMnLQ5k-CFv5yDyvBMigwfqwMSytanT85QfhxFiungASuI-iZzXIre/s2048/ponta+da+serra.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1334" data-original-width="2048" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGwKhmWzeRf8L59AxFgIJ11i5jQsF4-oVxRaqxbjIOwkKMUtWzYVFcY5Swqm9pFWNGh62hg3LX__ARshQpTKE1k1KMnLQ5k-CFv5yDyvBMigwfqwMSytanT85QfhxFiungASuI-iZzXIre/s640/ponta+da+serra.jpg" width="640" /></a></div><span face="" style="color: black; font-family: "open sans", sans-serif;"><br /></span><p></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 6pt 0cm; text-indent: 35.45pt;"><span face="" style="font-family: "open sans", sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><o:p> </o:p></span></p><br /><p></p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-57732205335330841982020-08-08T16:28:00.003-07:002020-08-08T16:35:14.946-07:00<p></p><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUKgb0k9Z-cTr1RBXZIzXCG1xl9Im7y0igVDZ6b5DcmIb5ChU_ToiMiUqctGZ91d6gDTejm31jNewDkrvAW5NeQvnkky_O5Ay2L75O96tJ3dl4CQDisntIKv1TZ2ter3KFtoqKFikzCZiE/s1080/mo%25C3%25A7a.png" style="display: block; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="410" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUKgb0k9Z-cTr1RBXZIzXCG1xl9Im7y0igVDZ6b5DcmIb5ChU_ToiMiUqctGZ91d6gDTejm31jNewDkrvAW5NeQvnkky_O5Ay2L75O96tJ3dl4CQDisntIKv1TZ2ter3KFtoqKFikzCZiE/w410-h410/mo%25C3%25A7a.png" width="410" /></a></div></blockquote></blockquote></blockquote> <p></p>Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-89037657419042163022020-07-22T08:18:00.000-07:002020-07-22T17:55:45.120-07:00<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Em todas as vezes em que eu abro gavetas, caixas, pastas, eu me vejo em rascunhos, na minha letra em mutação, na grafia de outros; em cartões, versos de panfletos, folhas amassadas; eu estou esparramada em blocos, cadernos, páginas soltas, capas arrancadas, rasuras, em espaços e tempos diversos. </span><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Talvez por isso seja tão difícil me juntar, num resumo breve, num lugar... </span><span style="font-family: "courier new" , "courier" , monospace;">Eu sou a escrita de tempos difíceis e brandos, o subir e descer da caneta em folhas em branco e rabiscadas. A escrita é a minha estrada...</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span id="goog_166030209"></span><span id="goog_166030210"></span><br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhg-VmMAAvw3NkchUOGpWxqIkfZIJEONJYu1uKZVm0D4y_-JIK5FsRqMluI3AwWIq3BuR4tlwomwTpCm8Rh1_mh8GvP3mlnWyHK8DDnnc3QpMzoAdPC3Dq3KIHh3I_ZYtJyV55NUHhMHzDk/s1600/Blog.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1600" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhg-VmMAAvw3NkchUOGpWxqIkfZIJEONJYu1uKZVm0D4y_-JIK5FsRqMluI3AwWIq3BuR4tlwomwTpCm8Rh1_mh8GvP3mlnWyHK8DDnnc3QpMzoAdPC3Dq3KIHh3I_ZYtJyV55NUHhMHzDk/s400/Blog.png" width="400" /></a></div>
<br />Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4535665770381293555.post-44990176369660654642020-07-12T12:22:00.001-07:002020-07-12T12:22:23.049-07:00Eu acordo<br />
janela aberta<br />
para um céu azul.<br />
Estou presa aos meus silêncios<br />
queimando<br />
em meus próprios incêndios.<br />
Mas o céu continua intenso<br />
em seus azuis.<br />
Meu ego rui<br />
sacada abaixo.<br />
Eu me despedaço<br />
enquanto tons celestes<br />
me inquietam<br />
a porta antes sempre aberta<br />
agora está fechada<br />
minh'alma enxovalhada<br />
nessa paleta de cores<br />
minhas dores em contraste<br />
angústias<br />
embates<br />
tudo, tudo, arde, arde, arde...<br />
enquanto me vasculho de norte a sul<br />
percebo que o caos<br />
é azul...<br />
(Tâmara Rossene)<br />
<br />
<br />Tâmara Rossenehttp://www.blogger.com/profile/12973885707403346642noreply@blogger.com0