sábado, 30 de agosto de 2014



A memória olfativa me desconcentrando... Cheiro de sabonete Francis me lembra a mudança pra Barreiras, aos quatro anos, a dor de uma vacina e o banho reconfortante de minha mãe. Quando eu vinha de Salvador para Ibotirama passar as férias e meus pais chegavam muitos dias mais tarde, para passar o Natal, eu era acordada com o aroma das maças, embrulhadas em papel lilás, que saltavam de dentro das malas. Cheiro de beiju e de escaldado de leite, lembra a minha avó Anália me rodeando. Perfume de Leite de Rosas, ao gesto de minha mãe, ao cair da noite, limpando a pele do rosto, com o frasco cor de rosa nas mãos. Cheiro de vinho, aos almoços de domingo, com o meu pai elogiando a sua Ricardina e nos arrancando sorrisos. Cheiro de Pimenta me lembra a comilança na gamela, junto com Orla e Cristina e aos meus gritos, devido a ardência. Alfazema me leva aos meus pequenos, em seus primeiros dias, aconchegados junto ao meu peito. E aí vou eu, com o aroma de uma colônia, do café fumegando em tardes infindas, de uma fruta da época, da terra molhada, espalhando o cheiro da chuva, do cheiro do pote de barro... Meu olfato viajando pelo tempo, misturando sensações, me trazendo pessoas, lugares. Numa trilha de aromas, minha história se desenrolando...

segunda-feira, 11 de agosto de 2014



E embora o meu pão de cada dia
passe pela burocracia
pelos arroubos de hipocrisia
pelos olhos que me vigiam
e que fecham as janelas.
Embora sejam velhas idéias
papéis e horários a cumprir.
Embora seja uma constante vontade
de fugir
o que me salva é o que me tira o sono
o que me invade:
Minha alma
é a arte!

(Vivi Éssi a frente e eu, atrás, na beira do Velho Chico).

quinta-feira, 7 de agosto de 2014


Os ventos de agosto começaram a soprar sobre nós! Vento e poeira sobre as casas, levantando as roupas dos varais, jogando terra sobre os telhados, sacudindo minha cabeleira. Ontem vi um redemoinho invadindo a cidade quando passava na BR. A ventania de agosto, antes que o calor nos sufoque, quando entrar setembro. Quando chego em casa nessa época, no finalzinho da tarde, vejo a amendoeira da porta da minha casa assim, folhas secas sacudindo, abandonando os galhos, para desespero das minhas vizinhas que vivem de vassoura em punho, para afastá-las. Até elas fazem parte desse cenário e não sabem! O cenário de agosto. Agosto pairando e minha amendoeira bailando, ao sabor dos ventos....

P.S. Obrigada, minha Mariana Bomfim, que me mostrou o encanto das folhas caindo...

sábado, 2 de agosto de 2014


Fico aqui observando essa onda de selfies inundando as redes sociais e embora eu nada entenda de pintura, fiquei aqui pensando em Frida Kahlo e nos tantos auto-retratos que pintou. E na forma como se desnudava nas pinturas, não se auto retratando por vaidade ou por se julgar o modelo perfeito. Mas os pincéis eram reveladores. A paralisia que a tomou quando criança e o acidente de trem alguns anos mais tarde, a incapacidade de gerar filhos, o relacionamento complicado...Fico aqui pensando que a dor retratada nas telas, ora era física, ora na alma. Uma excentricidade na aparência, que por vezes acredito ter sido por fuga. Numa tela, me aparece no colete que lhe aprisionou o corpo, mas não me sugere fragilidade. E volto aos selfies do agora. Haverá em algum deles essa intenção? De mostrar através da imagem algo além do que visualizamos? Do físico revelar o que está implícito? Ou são totalmente esvaziadas de qualquer conteúdo? Será que há algo a mais do que vemos e supomos? Ou,tanto tempo em auto retratar-se em vão?

P.S. Na imagem, Frida Kahlo...