sexta-feira, 18 de março de 2011

Coragem


Eu não tenho medo de seguir adiante

de encarar o novo

de me atirar pelo espaço infindo.

Eu tenho medo do que permanece inalterado

do que não me oferta escolhas

daquilo que me prende no mesmo lugar...

(Tâmara Rossene)

Uma poesia de meu pai...chamada Galopar Impiedoso

A brisa que sopra

Morna e perfumada

A ave que voa

Ligeira e desprendida

O rio correndo

E nunca mais vem

O tempo passando

Zombando de nós,

Levando ligeiro

Alegrias e sonhos

Deixando sua marca

De tormentosas saudades

Como o vento impiedoso

Empurra-nos mais

Na busca constante

Na luta audaz.

Vivendo o presente

De pálida esperança

Que crença maçante

Transforma-nos

Em... PÓ!...

(Orlando Ribeiro de Andrade)

Atriz




Libertina
doce
sutil
foice
Ágil
lenta
morna
voraz
Submissa
capataz.
Clara
intigrante
Gentil
infame.
Madre
serva
Louca
razão
Fria
inexata
fluido
emoção.
Eu posso estar de um lado a outro da margem
Posso ser o que quiser
Nessa capa de personagem.
( Tâmara Rossene)

terça-feira, 15 de março de 2011

Bastidores...

Estive pensando em tudo o que corre nos bastidores...Desde cedo o que está por detrás das cortinas sempre exerceram sobre mim, um certo fascínio...Nos espetáculos, a troca de cenários e figurinos, o corre corre anterior a cada ato, o que não enxergávamos no palco, atiçavam a minha curiosidade. É preciso muita sutileza para desvendar os personagens anônimos que estão escondidos sob a capa dos protagonistas. O maquiador, o iluminador, o vendedor de ingressos, o figurinista... Assim acontece em inúmeros lugares. Nem sempre saberemos o que ocorre nas "coxias". Se o ator principal apenas representa a genialidade de quem está oculto. Ou se o que vemos são apenas frágeis aparências. Os bastidores são reveladores! Neles as relações se desenrolam no limiar da imperfeição. Com ou sem máscaras. Nuas e cruas. Fico pensando nos bastidores das grandes revoluções. Se reis ou súditos, camponeses ou nobres, célebres ou pessoinhas comuns desenrolaram os atos que povoam a história. Qual palavra foi alterada ou omitida. Qual herói teria sacrificado a sabedoria e o trabalho do seu servo para ser coroado...

sábado, 12 de março de 2011

Carnaval se foi...




Já vivi muitos carnavais que deixaram saudades... Em Ibotirama já tivemos essa festa sendo comemorada na data que aponta o calendário. Não estou me referindo aos tempos jurássicos do salão de Carlos (rsrs). Mas já tivemos carnaval na AABB, na ACRI, no trio de Priquito (é assim mesmo que se escreve) rondando a Praça Ives. Naquela época o Chiclete perguntava "a maluquete de quem ela era tiete", a barba de Bel não valia tanto e parece que eles tinham prazer no que faziam. Também me recordo de tantos outros carnavais em Salvador...No relógio de São Pedro, na Praça Castro Alves, na Carlos Gomes e no circuito Barra Ondina, sem me preocupar com os que se aproximavam ou em ser mais uma nas estatísticas da violência. Depois comecei a observar os bastidores dessa festa que da "maior festa popular", passou a ser para mim a "maior festa das contradições". Dezenas de famílias nos becos, ruelas e praças, dormindo em colchões, montando os famosos churrasquinhos de gato, ou enchendo aqueles balões que tem forma de animais. Meninos catando latas de cerveja vazias, quase sendo chutados pelos foliões. Os garis entrando na avenida, em meio a água fétida. Dezenas de embalagens de isopor em ombros suados, quase voando por cima das pessoas. A luta cruel pela sobrevivência que pode ser vista de qualquer parte da festa, mas que parece sem importância para quem está no alto dos camarotes. O poder aquisitivo, sempre ele, separando, segregando, relegando a condição de reis ou de súditos nessa festa. Para inúmeros turistas que vem por estas bandas, estamos realmente a seu dispor. Muitos não escondem a forma preconceituosa como nos vêem - na cor e na origem nordestina. Para mim, uma hipocrisia essa coisa de "maior festa popular". Basta olhar a "pipoca" espremida ao lado das cordas. Mas, em meio aos mundos que se contrapõem me surpreendo com a irreverência de quem está do lado mais fraco da corda, como se divertem, como sorriem, afinal, é carnaval...

Sustentando a corda

pra nobreza passar

se arrastam os cordeiros!

Essa é a grande festa popular da Bahia!

À frente a plebe

tomando porrada

pra nata se divertir ilesa!

Brindamos a orgia

ao carnaval

a alegria eventual...

Enquanto do outro lado

da rua

a vida

nua e crua

se desenrola

sem confetes

no pequeno

catador de latas.

(Tâmara Rossene)

Mais uma história do passado...

Papai Noel existe

Eram duas irmãs de 05 e 08 anos. Uma loira e a outra morena. Era dezembro. E como a maioria das crianças dessa idade, pensavam nos presentes de natal. A mais nova acreditava fervorosamente que este chegaria pelas mãos de Papai Noel e que o bom velhinho não teria do que reclamar do seu comportamento no ano que estava para terminar. A outra, julgando-se superior a irmã mais nova, com um sorriso no canto dos lábios, imaginava onde seria o esconderijo dos presentes que compraria o seu pai, aguardando até a madrugada da noite de natal. O pai, professor de escola pública, um homem que não se cansava de comprar livros e que sempre que tinha tempo relatava as suas descobertas aos filhos, em suas viagens pela literatura. O salário de professor que recebia, garantia o sustento da família, mas não chegava para os pequenos agrados que gostaria de fazer a eles. As duas meninas, mais o garotinho de três anos. Muitas vezes usava a criatividade, para que eles não sentissem falta de brinquedos ou presentes mais sofisticados. Foi assim que inventara o buraco mágico da parede. Comprava balas, jujuba, chocolate e outras guloseimas para agradar aos pequenos. E uma vez na semana anunciava que abriria o buraco mágico da parede, que ficava atrás da cama do seu quarto, onde guardava as delícias. Os filhos ficavam na expectativa, atrás da porta do quarto fechada, ouvindo o pai anunciar: - Vou pronunciar as palavrinhas mágicas! E balbuciava palavras que eles não conseguiam compreender, para depois mandar que abrissem a porta e distribuir os doces.

Naquele ano, não contavam com muito dinheiro para a compra dos presentes. Ele e a mulher lembraram então de apelar para a cúmplice criatividade, que os ajudara de outras vezes. Havia uma mocinha de mais ou menos 17 anos, que trouxeram de um pequeno povoado onde tinham conhecidos, para auxiliar nos afazeres domésticos. Lembraram que a tal moça tinha uma irmã que contava com uns 08 ou 09 anos. E foi aí que o plano entrou em ação. Levaram as filhas para uma loja de variedades, dessas que vendem desde alfinete até fogão, variando de preços, a depender do bolso do freguês. Disseram então as meninas que a irmã de Elenita (era essa o nome da moça) que vivia na roça, gostaria de ter muitas coisas, mas que os pais não podiam lhe dar, que tinha condição humilde e tal. Falaram que gostariam de enviar um presente de natal para a tal menininha, mas que não tinham idéia do que comprar. Disseram o valor que tinham disponível para o presente e pediram para as filhas escolherem algo que fossem do agrado delas. E que escolhessem o presente, como se fosse para elas próprias. Os pais acreditavam que as filhas certamente comprariam para a irmãzinha de Elenita, algo que gostariam de ganhar e assim, ficariam felizes quando recebessem o presente escolhido por elas, na noite de natal. Apesar da pobre irmãzinha de Elenita não ganhar nada, ou nem ter uma ceia nessa noite, mesmo tendo contribuído com essa história.

Bem, a irmã mais nova, sem qualquer noção de preço, começou a arregalar os olhos prás bonecas dos olhos mais azuis, fogõezinhos que praticamente faziam comidinha sozinhos, carrinhos de bebê enfeitados de laçarotes de seda e encantos de todos os tamanhos. Nesse momento, a irmã mais velha puxa a coitadinha para um canto onde estava uma poltroninha de chita e lhe cochicha ao pé do ouvido: - Essa menina mora na roça, nem sabe o que são esses brinquedos. E completa: - Vamos escolher um presente que sirva para ela. E para completar o seu raciocínio, caminha até uma prateleira baixa, cheia de roupas de criança e começa a procurar. A pequena ainda tenta argumentar: - Mais ela deve querer brinquedo. A irmã não lhe dá ouvidos e exibe como se fosse um troféu, um pacotinho com duas calcinhas na cor abóbora, de malha visivelmente inferior e explica: - Ela não pode ganhar brinquedos igual a nós. Mora na roça, não sabe o que é isso. A irmã não entende muito as explicações que a outra lhe dá, mas imagina que ela saiba o que está fazendo, afinal, é a mais velha. Caminha então para a mesma prateleira e pega um pacotinho igual ao que lhe mostrara a irmã. Esta sorri com malícia.

Os pais, que deixaram as filhas andarem livremente pela loja, vão ao seu encontro, assim que estas lhe dão sinal com as mãozinhas, cada uma segurando um pequeno pacote. E quando se aproximam e constatam o conteúdo das embalagens, não entendem a escolha das filhas e dizem que elas podem procurar algo melhor. A mais velha retruca: - Mas são lindas! Por isso escolhemos. Os pais se entreolham, sem saber se acreditam na explicação dada, ou se... não, não, as filhas realmente devem ter se encantado com as cores. Afinal, crianças não tem maldade.

Alguns dias após este episódio, chega a noite de natal. A ansiedade é grande após o jantar. E pensar que em apenas algumas horas saberão o que papai Noel reservou para elas. Será um conjuntinho de sofás em miniaturas que viram outro dia na vitrine de uma loja? Com certeza aquele cavalinho cor de rosa com manchas em tom de lilás. O garotinho é o único que não se importa com a chegada desse tal velhinho e dorme cansado pela farra da noite. As meninas rolam na cama, imaginando presentes de todas as formas e cores, que ganham corpo em seus sonhos. Despertam exatamente às seis da manhã e pulam da cama ao vislumbrarem pequenos pacotinhos depositados em suas sandálias, ao pé da cama. Decepcionadas com o tamanho do pacote, rasgam a um só tempo as embalagens em motivos natalinos. Ao mesmo tempo surpresas e decepcionadas, sacodem sem entender a embalagem com as calcinhas abóbora, que escolheram para a garotinha da roça. Em segundos, parecem compreender a peça que a vida lhes pregara tão cedo. Escolheram para a pobre meninha da roça, crianças iguais a elas, aquilo que não desejaram para si. A única diferença é que a garotinha que estava naquele momento ao pé do fogão, cuidando da água do café, ainda tão jovem, não mais esperava por esse tal velhinho, que acreditava só chegava para os filhos dos ricos. Enquanto que elas, eram um poço de expectativas, agora frustradas. E nunca mais esqueceram a lição.

(Tâmara Rossene)

quinta-feira, 3 de março de 2011

Lei do Inverso


O mundo anda às avessas

Inverso.

Salvas e glórias aos acomodados

Ostracismo aos guerreiros.

Necessidade e penar

Aos que seguem o bom caminho

Abundância de graças

Aos que se perdem por opção própria.

Valerá a pena seguir o que é reto?

Estou vivendo a lei do inverso.

Busco o correto

Recebo recompensas amargas.

Serão as minhas?

Mas se me fosse ofertado

O caminho mais fácil.

O ilícito queimaria as minhas mãos.

Minha consciência agonizaria

Gritando princípios

Que não se calam ao receber

Aquilo que não lhe pertence!

(Tâmara Rossene)


quarta-feira, 2 de março de 2011




Eu estava absolutamente serena quando escrevi esse poema... Lembro-me que já era noite, no município de Muquém do São Francisco, enquanto eu observava o cotidiano tranquilo dos moradores. Sem simulações (como diria meu caro Irlan) é um retrato verídico de mim...


SONHOS

O que sonha aquela moça de passos ligeiros
entoando hinos de igreja
como quem festeja?
eu aqui a olhar esse vilarejo
sonhando em viagens pelo mundo
no grau de doutor
e no preço do meu segundo!
olhando aquela velha na porta
o menino pulando corda
essa vida simples do interior.
A moça diz que sonha
com uma escada de filhos
um marido, muito íntegro
olhando as flores do quintal.
Quanta pretensão a minha
julgar maiores os meus planos
egoístas e mundanos
sem essa essência de quem sonha
apenas prá amar e ser feliz!

(Tâmara Rossene)

Na estrada...

Muitos me perguntaram (ou se perguntaram) porque saí da capital e voltei para a minha terra de origem. Na verdade, tudo foi rápido demais. Ou talvez, no fundo no fundo, eu já estivesse me preparando para que isso ocorresse. A verdade é que quando perdi a minha avó materna, senti uma dor enorme por estar distante. E como me aventurei muito cedo pelo mundo, senti falta dos momentos que não vivi próximo a família; ou do que ainda poderia viver. Talvez esse tivesse sido o primeiro prenúncio de que um dia eu voltaria...
Depois veio aquela loucura da cidade grande, a necessidade de estar perto da minha filha que crescia cada dia mais longe dos meus olhos, na correria diária.
Voltar, estar aqui, me fez reconstituir os laços que já se esvaiam... A possibilidade de andar mais devagar, de almoçar com a família, de ser reconhecida por pessoas que sabem mais dos meus antepassados do que eu mesma, tudo isso teve e tem um certo encanto. É claro que é bom ser reconhecida e chamada pelo próprio nome, mas a proximidade com a vida pessoal também incomoda. Da capital sinto falta do burburinho, de alguns amigos, das atrações culturais a preços populares (rsrs), das paisagens (minha Ribeira, baía de todos os santos, contorno...) e de outras visões de mundo.
Claro que um pouco do que acontece por aqui também acontece por lá...A forma de olhar através de um único ângulo, um individualismo crescente, a língua ardente...Tudo em uma proporção que pode ser mais sentida lá ou cá. Mas já estive em lados diversos, divergentes e de cada um sempre restou aprendizado. Não sou afeta aos extremos. Mas também temo os "mornos".
Ter voltado também me trouxe momentos preciosos ao lado de meu pai, que se foi tão cedo. Se eu estivesse em terras estranhas, teria uma dor muito maior do que a que trago agora...
Essa divagação entre um lado e outro da estrada nunca me assustou. Na verdade, sinto medo de criar raízes...