terça-feira, 10 de maio de 2011

A moça me pede carona nas imediações do bairro São João. Parece ter seus 29, 30 anos. Ou, talvez as marcas que carrega na face a façam parecer dessa idade. Está com uma menininha de seus três anos, de jeito altivo e olhar perscrutador. Pergunto para onde vai as 15:00 horas de um sábado, sob sol escaldante. Quando vai responder, percebo que carrega uma sacola de viagem em uma das mãos. Escancara o sorriso e me diz que vai pegar um ônibus na Emtram para encontrar o pai da menina. Fico temerosa, mas procuro não demonstrar. Uma conhecida vem em minha direção e me diz ser sua vizinha. Era o que eu precisava para lhe oferecer aberta a porta do carona. No caminho ela fala sem parar. Acho que mais do que carona, precisava desabafar. Fala que está indignada com sua irmã mais nova, de 13 anos. Percebo que espera que eu pergunte porquê. Antes que eu faça, me confidencia então que a menina arranjara um namorado de 26 anos. Quando vou abrir a boca para dizer que tenho uma filha de 13 anos e que também ficaria confusa com essa situação, ela complementa: - Rapaz trabalhador, pedreiro, já construiu até uma casinha. Quer juntar com ela. Disse que vai dar de tudo! E ela não quer! Fica dizendo que quer terminar os estudo. Sorrio vitoriosa e ela se anima, considerando aquele um sinal de que estou do seu lado. E continua: - Eu casei com 15 e fiz até a quarta série. Ela tá na oitava e acha que não tá bom. Nem precisa mais estudar. Tinha era que aceitar o homem e arrumar logo um filho e ter seu canto. Agora fica lá dando despesa prá minha mãe e pro meu pai. Começo a me interessar pelo desenrolar da história. Pergunto o que pensam os pais mencionados. E ela responde desolada: - É a caçula. Passa mel na boca de todo mundo e eles fazem o que ela quer. Começo a pensar no ciclo da pobreza e em como é difícil sair dele. Normalmente em famílias de baixa renda e com baixa escolarização, a história se repete. Casamento em plena adolescência, filhos e frágeis perspectivas, para não dizer nenhuma. Chegamos ao destino da minha passageira. Quero saber mais: - E o que aconteceu com o rapaz? - Foi embora prá Paulo Afonso, desiludido, morar com a família que é de lá. E ela não tá nem aí. Só anda socada no quarto com os livros na cara. E mãe e pai apoiando uma coisa dessas. Não tenho tempo de fazê-la mudar de idéia pois o ônibus encosta no ponto e ela se atira porta a fora com a bagagem e a filha, gritando um muito obrigado em meio a correria. Fico pensando se a menina conseguirá resistir aos apelos da realidade que a criou. Se a negará. Se será uma a menos nas estatísticas. Se terá coragem de inverter o sentido do ciclo...

2 comentários:

  1. Que história tocante...
    Espero que a garota continue no caminho certo!
    Estou torcendo por ela.
    Tomara que não mude de ideia. Espero...

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  2. Nem estou acreditando que em pleno século XXI ainda há alguém que pense assim...

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