domingo, 18 de julho de 2021

Fiquei alguns minutos olhando para ele, deitado em posição fetal. Nos últimos dias em que o visitei, só o via assim. Abraçado ao travesseiro, passando as mãos frágeis sobre ele, com os olhos perdidos. Parecia um bebê que acabara de chegar ao mundo. E assim eu fiquei por minutos, observando a vida se esvaindo e meu avô tentando segurá-la, com as forças minguadas que lhe restavam. Meu avô, que atravessou a minha existência como um homem enérgico, agora atravessa a minha alma, quando o vejo se agarrando a linha tênue de se manter vivo, embora tenha perdido as forças para se manter de pé. Vejo os olhos inquietos, como se perscrutasse o silêncio, será que esmiuça as memórias? será que questiona o que virá? ou será que espera, enquanto engole as palavras, que não consegue pronunciar? Ele pede um abraço e eu sinto tristeza. Depois de todas as lutas, será que no final do labirinto, o único desejo e consolo que nos resta, é um abraço?