quarta-feira, 22 de julho de 2020

Em todas as vezes em que eu abro gavetas, caixas, pastas, eu me vejo em rascunhos, na minha letra em mutação, na grafia de outros; em cartões, versos de panfletos, folhas amassadas; eu estou esparramada em blocos, cadernos, páginas soltas, capas arrancadas, rasuras, em espaços e tempos diversos. Talvez por isso seja tão difícil me juntar, num resumo breve, num lugar... Eu sou a escrita de tempos difíceis e brandos, o subir e descer da caneta em folhas em branco e rabiscadas. A escrita é a minha estrada...


domingo, 12 de julho de 2020

Eu acordo
janela aberta
para um céu azul.
Estou presa aos meus silêncios
queimando
em meus próprios incêndios.
Mas o céu continua intenso
em seus azuis.
Meu ego rui
sacada abaixo.
Eu me despedaço
enquanto tons celestes
me inquietam
a porta antes sempre aberta
agora está fechada
minh'alma enxovalhada
nessa paleta de cores
minhas dores em contraste
angústias
embates
tudo, tudo, arde, arde, arde...
enquanto me vasculho de norte a sul
percebo que o caos
é azul...
                (Tâmara Rossene)


sexta-feira, 3 de julho de 2020


Dizem que a cidade é de todo mundo
mas ela guarda um buraco profundo
que engole famintos
e  moribundos.

Dizem que na cidade
se você acredita
tudo é possível.
Mas ela torna os gritos
dos desamparados
inaudíveis.
Gente que proclamam "de bem"
em insensíveis.

Dizem que para qualquer um
a paisagem da cidade subsiste
mas há um rol de meninos
mulheres e homens
cegos e invisíveis
pela fome.

A cidade é de quem come...
                         
(Tâmara Rossene)


P.S. Fotografia no Centro de Recife - PE, 2020.