sábado, 30 de abril de 2011






Mais uma vez em Salvador...Mais uma vez nostálgica! Quando eu tinha 09, 10 an0s, era década de 80 e vivíamos o final da ditadura militar. Eu não tinha consciência disso, mas indo de ônibus para a escola da Federação até o Campo Grande, lembro-me que os muros pixados me intrigavam...O ônibus passava pelo Campus de arquitetura da UFBA, pelo Campus de São Lázaro, pelo Hospital das Clínicas, ali próximo aos Campus de Medicina e Música. Nos muros eu lia chapas dos DCES's, grêmios e movimentos estudantis. Às vezes saía da escola e via militares e estudantes numa demonstração de que estavam em lados opostos. Já desci de um ônibus, atraída por esses movimentos. Me encantavam da mesma forma que o nome Luiz Melodia ao lado de trechos de música, em muros da Federação. Naquela época eu pensava que um dia ainda veria "Tâmara Rossene enfeitando os muros (rsrs). Não consigo relacionar aquela Salvador com essa que vejo hoje. Shoppings explodiram pelos quatro cantos da cidade. Andávamos de chineliho e bermuda sem constrangimentos, afinal estavámos em uma capital litorânea. Tudo mudou...Prédios cada vez mais altos e atendentes cada vez mais robotizados estão espalhados por aqui, utilizando cumprimentos completamente diferentes do "ô minha linda", "valeu brother" e tantas outras expressões que nos tornava tão peculiares. Será necessário tudo isso? Vejo padrões por todos os lados. Mas também vejo uma insegurança crescente! Será esse o preço? O caos do desenvolvimento... Desordem, mas Progresso...


Acima, fotos do parque da cidade, onde quando menina, vivi momentos felizes. Bom que ainda exista, revitalizado...sinal de que nem tudo está perdido e que ainda ha esperança, na metrópole...


quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ontem e hoje...

Cresci ouvindo falar sobre a lenda da mulher de sete metros, que aparecia na calada da noite, nas proximidades do antigo Hotel São Pedro, encostada num poste de iluminação pública. Minha mãe me contava em detalhes, que certa vez minhas tias foram visitá-la em nossa casa, que ficava na Avenida J.K., logo após a escola Centro da Esperança (que na época não existia). Havia apenas dois vizinhos distantes e o Colégio Cenecista a frente. Segundo ela, havia acabado de anoitecer e chovia muito. De repente as minhas tias chegaram ensopadas, apavoradas, como quem acabara de ver fantasma. Disseram que a tal mulher olhava calmamente para elas, que saíram em disparada, largando a sombrinha e as capas de chuva. Essa e tantas outras lendas tinham para mim um grande encantamento. Mas lamentavelmente foram sumindo junto com outros hábitos que habitavam a Ibotirama de outros tempos! As pessoas sentadas às portas, os violões ao entardecer no cais, as cantigas de roda, a participação popular nos festivais de música...Sabe uma coisa que sinto falta? dos casamentos na Igreja Nossa Senhora da Guia, com foguetes estourando por toda a parte ao som das salvas e vivas aos noivos (hoje a tal etiqueta não permite). Globalizamos demais os costumes, abandonamos rituais nossos de cada dia, genuinamente ribeirinhos, substituindo-os por costumezinhos piegas que circulam na rede e nos canais. Para mim, estamos perdendo o calor dos nossos ritos! Os ternos de reis zanzando pela rua primeiro de janeiro, pela JJ Seabra, pelas casas...as novenas com seus licorzinhos, as gincanas... Assistimos as mesmas novelas, ouvimos as mesmas músicas, nos vestimos do mesmo jeito, que milhares...Numa necessidade de pertencimento, que nos distancia do único mundo verdadeiramente nosso...



Amo.
Choro.
Rio.
Enlouqueço.
Sumo.
Esqueço.
E prá tudo
sempre um começo...
Vivo entre verbos.
Enquanto conjugo
cresço...

(Tâmara Rossene - Paisagem da Ilha de Maré em clique meu)

domingo, 17 de abril de 2011




Uma trilha de formigas passeia sob meus olhos. Lanço um farelo de pão na direção inversa e acompanho a rápida mudança de curso. Reparto o alimento inesperado em minúsculos pedaços. Observo...Coloco um obstáculo no caminho (palito de fosfóro) e me delicio com a habilidade para superá-lo. Pingo gotas de água e formo poças ao longo do caminho. Ainda insistem em continuar sobrevivendo. Sopro sobre elas. Querem a todo custo seguir adiante, mas em volta, noto que já causei alguns prejuízos no reino. Quem não gosta de vez ou outra, brincar de Deus?


(P.S. Foto da ponte de Ibotirama vista do vapor São Salvador, by Marcelo Bomfim)

Um ano de João Marcelo


Ontem meu filho fez um ano de vida...Veio depois de 13 anos, quando um novo filho parecia não caber nos nossos dias tumultuados. Tivemos que praticar o dom da paciência e reaprender a desacelerar. Um ano cercando de mimos uma criatura de extrema fragilidade. Um ano de vigília e cuidados, sendo felizes as mínimas evoluções. Um ano de gratidão a Deus e aos infinitos mistérios da natureza. Um ano de comemorações pela possibilidade de começar do zero mais uma vez, com medo, crédulos, exultantes e sobretudo, plenos...


(P.S. Nasceu 04 dias depois do meu irmão Ricardo e três dias depois do meu pai. No mesmo data de aniversário de Charles Chaplin)

quarta-feira, 13 de abril de 2011



Se aqui estivesse, o meu pai faria hoje 68 anos...Difícil construir essa frase! Não consigo dissociá-lo da minha existência. Integridade, nobreza de caráter, honradez, são alguns dos valores que me remetem as suas memórias. Ele era de um idealismo puro. Às vezes beirando a teimosia. Além dos traços que observo ao espelho, dele herdei essa melancolia quer quer arrebentar o peito e esse gosto pela poesia que me embala os dias. Nos dizia que a riqueza que acumulara para nós estava nos inúmeros livros que comprara durante uma vida e que hoje se reparte entre filhos, netos... Por isso essa busca pelo conhecimento que me persegue, de forma incessante...Era um exímio escritor e mais ainda orador. Nunca o vi levantar a voz. Era antes de tudo, um pacificador. Amante dessa terra e inquieto com os seus rumos. Desejoso de justiça, insatisfeito com as desigualdades, oscilava entre o direito e a educação, sem pensar em riquezas materiais. Era ético e respeitado. Conhecia a história de Ibotirama como poucos. Cada recanto, as origens, as primeiras famílias, os ritos... Foi um pai amoroso e presente e me deixou um legado valoroso e uma dor sem tamanho! O poema abaixo, apesar de ter sido escrito há tanto tempo, nunca chegou ao seu conhecimento, porque nunca tive coragem suficiente para mostrá-lo. Agora publico, para preencher uma lacuna.


Meu poeta

O meu pai é poeta e planejou prá mim

um futuro de estrelas e calmaria

mas um vento arrastou tudo prá outro lugar...

O meu pai é poeta e sonha demais!

O meu pai construiu prá minha mãe

um castelo encantado

com brisas suaves

balançando as alvas cortinas no céu poente.

Mas uma maré lançou tudo no meio do mar.

O meu pai é poeta e sonha demais!

O meu pai começa sempre da mesma forma

andaimes soltos no espaço

construções que nunca se acabam

tijolos no meio do nada.

Eu sonhei prá ele um futuro encantado

glórias prá coroar um sábio

e um remédio prás quedas

de suas construções fabulosas.

Eu também sou poeta.

O meu pai é poeta.

Nós sonhamos e sofremos demais!

segunda-feira, 11 de abril de 2011


















Eu não preciso estar perto para amar...

Eu posso amar no silêncio

nas palavras não ditas

em atitudes invisíveis

na incondicionalidade sem limites...

Eu não preciso de igrejas para ter fé!

Eu preciso acreditar sem que os olhos vejam

sem o milagre realizado

no limiar da dor

naquilo que só o amor compreende...

Eu não amo

nem creio

porque vejo altares

ou porque me apontam

santos de barro.

Mas porque tenho esperança de algo mais

do que aquilo que enxergo.

Do limite que os meus olhos alcançam.

Do que os sentimentos que o homem me desperta

daquilo que a minha condição humana me trás!


Tâmara Rossene


(Igrejinha de Barra do Jacuípe, em clique meu!)




Ando pensando muito nas múltiplas visões que estão a minha volta. Verdade e mentira são os extremos. Mas há muitas verdades sob a capa da mentira e muitas mentiras se escondem sob a dita verdade. Nós é que insistimos em podá-las. Ou, em não enxergá-las. Há muito de lobo sob a pele do cordeiro e vice e versa. Titubeamos entre um e outro lado, o que há é uma certa predominância a um dos lados. Posso ser santa e pecadora num único ato. Nem todos perceberão todas as facetas que estão em mim. Assim também o são as organizações das quais fazemos parte. Nem sempre a nobreza que reveste os objetivos traçados, conseguirão mantê-las imunes a imperfeição que rondam os seres que delas fazem parte. Por isso me angustio com as máscaras que o mundo nos impõe. Com as ditas regrinhas das convenções. Perdoem a filosofia barata que aqui deixo... (não disse que meu sonho era ser filósofa caro colega? rsrs).

Abaixo, um poeminha para dias inquietos como esse...

Bulimia


Engulo todos os dias


Mediocridades


Vaidades


Hipocrisias


Pessoinhas fúteis


Palavrinhas vãs


Esperando o final da tarde


Quando vomito


Toda essa comidinha inútil!



(Tâmara Rossene )