terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A data de 30 de janeiro me faz lembrar, que são três anos sem o meu pai... Levou com ele um pedaço enorme de mim e me deixou a presença dele na maior parte do que me tornei! Fico me lembrando que saiu de Ibotirama com três filhos por criar, professor do estado, prá realizar o sonho de  cursar direito em Salvador. Que colocou na cabeça de minha mãe que o caminho era estudar e que assim ela o fez.  Que depois de cumprida a sua missão, voltou porque ainda acreditava que seria feliz em sua terra natal. Fico pensando que honrou o seu papel de educador até o último instante de vida. No seu senso de justiça e no homem fiel aos seus princípios e aos seus ideais de tal forma, que foi tachado de radical por muitos e muitas vezes incompreendido. Um calo no sapato de outros tantos! Uma pena a nossa memória ser tão curta! Além de tudo o que devo a ele, herdei essa melancolia que me surge no meio do dia, essa paixão pela cultura popular dessa terra que ele amava tanto! E ele ainda me deixou uma infinidade de poesias...datilografadas, digitadas, manuscritas. Uma herança que preciso dividir! As poesias deixadas por ele, foi como se me abrisse uma porta, para que nos encontrássemos em outros mundos...

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013



Estive pensando muito em Mariana nas últimas horas... Nessa angústia que me relata ao descobrir-se num mundo repleto de pessoas que insistem em continuar na "pequenez". Ao deparar-se nesse universo que cultua a matéria dia e noite, com suas hipocrisiazinhas cotidianas, enquanto todos nós vamos adoecendo e padecendo dos males que nós mesmos causamos. E vou me lembrando de tudo o que lhe disse, sobre essa venda que nos é tirada dos olhos e que quando isso acontece, é como provar do fruto proibido, porque voltar atrás já não é mais possível. E essa Mariana tão cedo amadurecida, de natureza controversa e conflitante, não sabe que me salvou justamente de cair nessa sarjeta mundana que me relata. E minha natureza de mãe quer oferecer-lhe colo, embora saiba que já não adiante, porque eu mesma removi as redomas, para que crescesse sem enganos. E eu mesma vou chegando a conclusão que o que eu posso oferecer-lhe já é pouco, porque a imensidão a explorar já lançou sobre ela as suas garras... E isso me vem, justamente hoje, às vésperas dela completar 16 anos. E vou me convencendo que essa coisa de criar filho é um jogo de erros e acertos sem fim e que nunca teremos um balanço final, nesse tatear no escuro a que somos submetidos. Mas vê-la assim tão segura em suas próprias reflexões me dá um frio na espinha, mas também um orgulho imenso. E pensar que há pouco eu a tinha ali, ao alcance das mãos...

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Uma poesia de meu pai...


ESPERANÇA DESBOTADA

Na noite escura
ENVOLVENTE
Piam de frio as aves escondidas
Brilham distantes estrelas cadentes
Fosforescendo o espaço
Causando admiração!
Quem me dera
PUDESSE!
Em seu rastro de luz
Levar minhas desilusões
Iluminando a escuridão
De minha alma triste
P E R P L E X A M E N T E !
Num pranto reprimido
Na angustiada busca
De ser feliz...

Orlando Ribeiro de Andrade

sábado, 12 de janeiro de 2013

Ah, que cansaço! e em dias assim, invejo Nero! mas a boa educação que me deram, me tornou excessivamente comedida em meus atos, apesar de revolver-me inteira por um palito de fósforos! Não, não...acho que eu não tocaria fogo em Roma, estou mais para ser atirada nas fogueiras da inquisição, tão pecaminosa em meus pensamentos e tão persuasiva com os que me rodeiam (e me dão espaço). Em dias assim, em que estou tão farta das repetições, preciso espaçar...mas a tal da boa educação (e do bom senso) não me permite ir mais além...e eu fico aqui, como agora, medindo palavras, engolindo-as na verdade e implodindo...

domingo, 6 de janeiro de 2013

Foi num janeiro que recebi uma vida prá cuidar, quando mal dava conta de mim mesma... Era uma sexta feira a noite, ali próximo a Igreja do Bonfim e num relampejo, eu desacreditei da minha capacidade de ser responsável por aquela menina de olhos vívidos e peito resfolegante. Noutro janeiro, num sábado de sol abrasador, lá se foi meu pai, num dia em que minha irmã mais velha aniversariava, tão cheio de sonhos e de vida, que custo a acreditar que janeiro o tenha levado embora. Há muitos janeiros atrás corri solta no quintal de meus avós, saltitante, em férias que eu desejava que nunca terminassem. Noutros janeiros o meu coração pulava com os grupos de reis que adentravam as casas, com músicas e vozes vibrantes, tão diferentes desses que se mostram nos dias de hoje... Num janeiro perdi o emprego, noutro achei que tinha chegado a oportunidade da minha vida. Num janeiro vivi feliz. Noutro triste. Num deles estava prestes a conhecer o amor da minha vida. Noutro, perdi. E noutro ainda, o recuperei. E vivo assim cismada com esse começo, que já foi muitas vezes para mim, o fim... Como ciclos que se iniciam e se encerram... Janeiro é prenúncio...E temor do que se anuncia. Mas como não posso evitá-los, que venham janeiros! É sinal de que o curso da vida continua...

P.S. Na imagem, a árvore que eu e Mariana nos debruçamos prá admirar, no caminho da Pratinha. Foto de Pedro Rutílio.