segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Uma história do passado...

Um bêbado no labirinto

Naquela época, a casa de minha avó parecia enorme. E ficava maior ainda quando os adultos saiam de casa, como naquele dia. Entre primos e garotos da vizinhança, devíamos somar umas dez crianças, que se acotovelavam pelos corredores e quartos, brincando de esconde-esconde, numa casa que diziam ser mal-assombrada. Tínhamos pressa de brincar. Primeiro porque viviam nos dizendo que aproveitássemos a infância, pois o tempo passava muito rápido. E depois, porque ficar sozinhos era algo quase impossível, numa família com tantos parentes e conhecidos entrando e saindo daquela casa.

No meio da nossa correria, eis que entra um bêbado. Percebemos que ele zanzava pelo corredor, mas não dávamos a menor importância, apenas nos desviávamos do seu caminho, mesmo porque aquele não era um simples bêbado, mas um parente muito próximo, e já nos acostumáramos a sua farra habitual entre as garrafas. O bêbado saiu do corredor e passou a explorar os compartimentos da casa. Nesse momento um de nós percebe que ele está perdido. Sai de um quarto, entra na cozinha. Entra numa porta, dá em outra. Sai do banheiro, passa para o quintal. Volta do quintal e vai parar na sala de jantar. Um loirinho de nome Ricardo e olhar curioso, aponta o bêbado e grita: - Ih, parece que ele tá perdido num labirinto! Todos riem e resolvem mudar o foco da brincadeira, que passa a ser observar o coitado do homem, já mais tonto agora, do que quando entrara naquela casa.

O bêbado não imagina a algazarra que está provocando na meninada, nem que havia sido descoberto naquele desespero e perdido, começa a raciocinar como sairá daquele lugar, sem dar ousadia para aqueles moleques, porque menino não é trem de gente. Sente os bolsos pesados. O filho da puta do dono do bar, aproveitando-se do seu estado, lhe passara o troco todinho de moeda. Eis que uma idéia lhe surge. Chama as crianças que agora o rodeiam. E fala com dificuldade: - Vocês querem comprar uma balinha?. Remexe nos bolsos e retira de lá o tesouro que servirá de passaporte para sair daquele lugar. – Dou tudo isto a vocês se forem agorinha mesmo. Os meninos tentam lhe arrancar as moedas. Juntando as poucas forças que ainda lhe restam, o bebadozinho fecha as mãos e volta a negociar. – Mas só entrego se vocês saírem agora pra comprar, senão eu tomo tudo de volta! Os meninos gritam em festa e aceitam o acordo. O bebum passa as suas mãos os metais. Alguns rolam no chão. Os garotos se agacham para recolher e o negociador mais tonto ainda com o barulho e o calor a sua volta, grita: - Agora, senão eu tomo! A criançada sai correndo e o bêbado acompanha aos tropeços, a saída do labirinto, quase se atirando aos pés da meninada, feliz por finalmente encontrar o caminho de volta. Quando consegue enxergar a luz do poste da rua, na porta da casa, dá uma gargalhada e diz prá si próprio: - E Zefa ainda diz que eu não sou inteligente!

(Tâmara Rossene)

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