quinta-feira, 13 de setembro de 2018

Salvador, década de 80 e meu presente de aniversário atrasado, um ingresso para assistir aos "Menudos" na Fonte Nova. Expectativa em alta! Antes do show e já aficcionada por fotografias, encomendo o clique ao meu pai. Estávamos há algumas décadas do consumo facilitado e acabáramos de trocar a TV em preto e branco, por uma Philco colorida e grande o suficiente, para ocupar um lugar privilegiado na sala, ao lado dos livros e acima da vitrola Philips. Embora eu quisesse ser eternizada em frente a estante, o meu pai queria mostrar a sua mais nova aquisição e como eu estava com pressa, cedi. E assim parti com o look desenhado por mim mesma - uma camisa do meu pai, sobre um bustiê laranja que mandei fazer. Cabelo picamaleão, magérrima, fugindo a alguns padrões de estética da época e ainda, com o coração aos pulos - eu era uma menina, indo ao seu primeiro show! Assisti a tudo, tensa, da arquibancada, tentando enxergar as coreografias ensaiadas, cantadas em playback, através de um binóculo e querendo me lançar ao abismo, porque naquele instante provei do fruto proibido: a cada luz do flash da câmara, uma luz sobre mim. Primeira compreensão sobre a indústria cultural e sobre a hipnose que produtos como aquele, exerciam sobre nós, tolos consumidores. Pensei naquela fábrica de meninos cantantes apenas para vender. Pensei no preço absurdo do ingresso que pagamos, para que eu estivesse em uma cadeira de arquibancada, a quilômetros do palco, me acotovelando com as pessoas. Pensei no engôdo a que eu e outras meninotas estávamos vivendo, algumas gritando, outras aos prantos. E saí outra pessoa daquele espetáculo repleto de luzes, embora eu tivesse dito a todos, que tinha sido o melhor show para o resto da minha existência. E cá estou eu, em 2018, pensando em como se ampliaram as possibilidades de consumir, dos eletrônicos aos enlatados, desde aquela época, em que se comprava a duras penas, em crediários intermináveis. De lá para cá, um longo caminho... Mas você que me lê nesse momento, por favor, me responda: o quanto amadurecemos enquanto consumidores, em todo esse tempo?


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