domingo, 2 de setembro de 2018

Eu sempre estive entre dois mundos e transitando entre eles. Do lado de cá, o calor incessante, a chuva (como milagre), o rio ora seco, ora enchendo, a solidão dos finais de tarde. Do lado de lá, a chuva como inconveniência no cotidiano da metrópole, a água salgada e farta, a solidão em meio ao burburinho da multidão. Num canto a oferta abundante daquilo que o dinheiro podia comprar. No outro, a escassez e os desejos. Mundos que não se complementavam, que não convergiam, que não me traziam pontos de intersecção. Mas um dia me disseram que o rio desaguava no mar. E depois desse dia, eu me sentia desaguando de um lado ao outro. Talvez por isso eu seja assim, nem doce, nem salgada, água salobra que nem sempre é possível engolir. Talvez por isso eu seja solidão e multidão, mas nunca cheia, repleta, sempre sedenta. E de todas as vontades, a que mais  me persegue é essa vontade de transitar entre territórios e pessoas, entre sentimentos e desejos, como água correndo em canais estreitos, que busca chegar ao mar...

P.S. Fotografia no rio São Francisco, Povoado da Passagem, Muquém do São Francisco, 2018. Crédito da foto: Marcelo Bomfim.

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