domingo, 19 de agosto de 2018


A moça derrama vazios a minha frente. Cuida do corpo e por ele se entrega a sacrifícios diários. Compra cremes, fórmulas e horas eternas em academias. Trabalho, diz ela, é o corpo cedendo ao cansaço e as rugas. Trabalho envelhece. E vai destilando os vazios que a compõe. Muitos homens a tem, mas só os que podem suster seus vazios. Não quer saber dos que tem fome. Não a preocupa os que estão sedentos. Mas deseja ver se plena em corpo, músculos, cabelos, pele de seda. E eu a olhá-la, tão absorta em pensamentos inquietos. Abarrotada dos questionamentos alheios. Sedenta de justiça e indignação. Com fome de correr trecho e de percorrer textos. Me retraio. A moça dos vazios parece ser feliz em sua própria ausência...

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