A moça derrama vazios a minha
frente. Cuida do corpo e por ele se entrega a sacrifícios diários. Compra
cremes, fórmulas e horas eternas em academias. Trabalho, diz ela, é o corpo
cedendo ao cansaço e as rugas. Trabalho envelhece. E vai destilando os vazios
que a compõe. Muitos homens a tem, mas só os que podem suster seus vazios. Não
quer saber dos que tem fome. Não a preocupa os que estão sedentos. Mas deseja
ver se plena em corpo, músculos, cabelos, pele de seda. E eu a olhá-la, tão
absorta em pensamentos inquietos. Abarrotada dos questionamentos alheios.
Sedenta de justiça e indignação. Com fome de correr trecho e de percorrer
textos. Me retraio. A moça dos vazios parece ser feliz em sua própria
ausência...
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