sábado, 12 de março de 2011

Carnaval se foi...




Já vivi muitos carnavais que deixaram saudades... Em Ibotirama já tivemos essa festa sendo comemorada na data que aponta o calendário. Não estou me referindo aos tempos jurássicos do salão de Carlos (rsrs). Mas já tivemos carnaval na AABB, na ACRI, no trio de Priquito (é assim mesmo que se escreve) rondando a Praça Ives. Naquela época o Chiclete perguntava "a maluquete de quem ela era tiete", a barba de Bel não valia tanto e parece que eles tinham prazer no que faziam. Também me recordo de tantos outros carnavais em Salvador...No relógio de São Pedro, na Praça Castro Alves, na Carlos Gomes e no circuito Barra Ondina, sem me preocupar com os que se aproximavam ou em ser mais uma nas estatísticas da violência. Depois comecei a observar os bastidores dessa festa que da "maior festa popular", passou a ser para mim a "maior festa das contradições". Dezenas de famílias nos becos, ruelas e praças, dormindo em colchões, montando os famosos churrasquinhos de gato, ou enchendo aqueles balões que tem forma de animais. Meninos catando latas de cerveja vazias, quase sendo chutados pelos foliões. Os garis entrando na avenida, em meio a água fétida. Dezenas de embalagens de isopor em ombros suados, quase voando por cima das pessoas. A luta cruel pela sobrevivência que pode ser vista de qualquer parte da festa, mas que parece sem importância para quem está no alto dos camarotes. O poder aquisitivo, sempre ele, separando, segregando, relegando a condição de reis ou de súditos nessa festa. Para inúmeros turistas que vem por estas bandas, estamos realmente a seu dispor. Muitos não escondem a forma preconceituosa como nos vêem - na cor e na origem nordestina. Para mim, uma hipocrisia essa coisa de "maior festa popular". Basta olhar a "pipoca" espremida ao lado das cordas. Mas, em meio aos mundos que se contrapõem me surpreendo com a irreverência de quem está do lado mais fraco da corda, como se divertem, como sorriem, afinal, é carnaval...

Sustentando a corda

pra nobreza passar

se arrastam os cordeiros!

Essa é a grande festa popular da Bahia!

À frente a plebe

tomando porrada

pra nata se divertir ilesa!

Brindamos a orgia

ao carnaval

a alegria eventual...

Enquanto do outro lado

da rua

a vida

nua e crua

se desenrola

sem confetes

no pequeno

catador de latas.

(Tâmara Rossene)

Um comentário:

  1. Realmente a sua percepção do carnaval atual é certíssima. Para os turistas que vêm se aproveitar desta grande selva, somos iguais em tudo, como dizia aquele poema de " Morte e Vida Severina" iguais em tudo na vida, na mesma cabeça chata e barriga grande". Pois é o carnaval romântico em que Moraes Moreira balançava o "chão da Praça" e Caetano cantava que a "praça era do povo" já se foi.

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