domingo, 23 de agosto de 2020

Por um longo tempo eu fui a filha do meio. Nem numa ponta, nem em outra. Nem revestida da autoridade da mais velha, nem da vulnerabilidade que recaía sobre o caçula. Nem o colo do primogênito, nem o do mais novo. Eu não sei se foi devido a esse lugar em que eu estive, mas muitas vezes eu me coloquei no meio termo. Eu permaneci filha do meio, mesmo quando já havia perdido esse posto para a chegada de mais um irmão. Escolhi ser filha do meio na minha relação com os outros. E aceitei os meios abraços, os meios sorrisos, as meias verdades alheias. Mas chegou um tempo, em que eu me cansei dessa temperatura morna e rompi com a rigidez da posição em que me coloquei.  Eu descobri que eu era volátil, como todo o resto. Ora eu tinha a maturidade que se esperava da filha mais velha. Ora a imaturidade do caçula. Ora eu dava passos confiantes. Ora vacilantes. E por muitas vezes eu também estava no entrelugar. Mas nunca mais estive metade, meio, parte. E passei a me retirar, onde não pudesse permanecer inteira...

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