domingo, 8 de setembro de 2019

Lá pelos idos de 2001, recebi um convite da empresa em que eu trabalhava para ser transferida de Salvador, para Belo Horizonte. Em casa, estávamos começando a vida, havíamos acabado de financiar um imóvel e a minha filha vivia a graça dos seus três anos e meio. A promoção traria um gás a minha vida profissional, a grana era razoável e fizemos milhões de planos. A estratégia era: eu vou primeiro, ela fica com você; quando terminar o ano letivo ela vai comigo, depois você vai também (embora ele estivesse empregado) e viveríamos felizes para sempre...
Mas as coisas não funcionaram dessa forma. Em nossas previsões, não contamos com o peso da distância no cotidiano exaustivo das metrópoles, em que cada um de nós vivíamos. Não conhecíamos profundamente os nossos sentimentos, nem imaginávamos como se daria a interferência do mundo a nossa volta. Hoje enxergo que se a promoção tivesse sido destinada a "ele", o "chefe da família" o "homem" da casa, tenho certeza que o curso da história seria outro. Entre as dores e as agonias de estarmos longe um do outro, havia o ego masculino nos rondando e dedos em riste apontando para mim. Eu ouvia cochichos de vizinhas de quem eu mal ouvia um bom dia, dizendo que não abandonariam nem a filha, nem o marido, por causa de um emprego. Eu ouvia pessoas próximas, que sabiam o porquê das nossas decisões, com questionamentos similares. Eu ouvia a distância, de homens e mulheres, opiniões que me apontavam como uma mãe e uma esposa questionáveis. Mas eu sei, que se o meu companheiro tivesse sido promovido, seria um homem competente, se atirando a uma oportunidade. Essa pressão me levou de volta e trouxe consequências e lições para nós dois. Isso me trouxe a necessidade de buscar impulsionar mulheres que eu encontro pelo caminho e que precisam partir ou ficar, em vôos que o mundo reconhece como pertencentes ao mundo masculino. Me fez rever as minhas próprias lutas e estabelecer os preços que não quero pagar e as escolhas das quais não devo abrir mão. E me faz questionar aqui e ali, essa sororidade, de que tanto se tem falado, mas que é ausente no peito de tantas mulheres, quando se aproximam das fragilidades de outras...


P.S. Na foto, uma recordação de Ouro Preto, agarrada a Mariana, quando Belo Horizonte era a nossa morada.

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