domingo, 15 de setembro de 2019


Sempre que alguém abria o álbum das fotos do nascimento de Mariana, fazia algum comentário sobre essa imagem. Por detrás de todos os floreios, dos bordados e das cores suaves do enxoval, dos desenhos da decoração, das musiquinhas tranquilas e das lembrancinhas de agradecimentos pelas visitas, essa é a minha imagem real da maternidade. A fisionomia exausta pelas horas em claro nas noites de adaptação da minha filha, em sua incursão nesta vida. O cansaço pelo tempo da amamentação, no seio repleto de rachaduras. Sim, eu estava feliz. E os olhos dela, me atingiam profundamente, como a visão mais fantástica desse mundo. Mas eu tentava me adaptar as dores da maternidade e eu precisava de um silêncio que ás vezes eu não tinha. Eram comentários me atingindo de todos os lados: - Não pegue assim; não dê mama dessa forma; não faça isso!; porque você escolheu aquilo? cuidado! ou: nossa, como você emagreceu!; a sua barriga ainda está deste tamanho? por que você fica de camisola? Eram visitas que me atropelavam com perguntas invasivas e impossíveis de serem respondidas. Eram muitas vozes sugerindo, censurando, falando... Mas ao fundo, havia a minha mãe. Ah, se todo mundo soubesse, que nesses momentos precisamos de uma mãe e de silêncio, mais do que tudo! E de solidão para compreender que a maternidade dói. E que isso não está relacionado com falta de amor. Ao contrário, isso tudo é forjado com uma tempestade de sentimentos. Nestes dias, é preciso deixar o descanso fazer morada. Porque há uma mulher cambaleando em seus primeiros passos entre amor, dor, medo e incertezas. Porque ao mesmo tempo em que nasce uma criança, uma mãe está se formando, fora do útero... 

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