sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Todos os dias eu a vejo, as primeiras horas da manhã, arrastando sofregamente "o menino". O menino, é um homem de cerca de 30 anos, com problemas mentais, que se comporta como se não tivesse saído da primeira infância. Ela, já passou dos setenta e cinco. Tão magrinha, como se fosse partir ao meio. Ele, cheio de vigor, sem ter aprendido a controlar a própria força, enérgico, um garoto em explosão. Ela o arrasta pela rua comprida, no que parece ser uma tentativa de fazê-lo se exercitar. Ele para ao menor ruído de uma folha que cai, de um cachorro que passa, do vento que sussurra em seus ouvidos. Ela lhe chama carinhosamente para que siga. Ele para, não quer ir, volta atrás. Ela tão frágil, diz: vem... Uma voz fraca, de mãe, que já mingou as suas forças. Já perdeu todas as noites de vigília, todas as manhãs e tardes, nesse exercício que não termina, porque o filho não cresceu, nem crescerá... Ela só tem a ele. Ele só tem a ela. E eles estão presos nesse ciclo. Mas ela já está findando. E ele segue, menino saltitante, curioso, para além do fim. Vendo-a assim, me sinto tão covarde diante de conflitos que me parecem agora, banais. Observando-a, passo a achar tanta gente que me parecia gigante, minúscula. E cá estou eu , tentando imaginar quem os prendeu nesse ciclo perverso. Tentando pensar, em quais teorias irei me agarrar, para tentar arrumar uma explicação que sirva apenas para acalmar o meu próprio espírito. Mas no fundo, estou apenas tentando afastar um pensamento que me acomete, de quem o arrastará assim pelas ruas, se ela se for antes...



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