terça-feira, 6 de novembro de 2018

Em meio a exaltação política, uma mulher que fazia parte da minha lista de amigos, fez uma postagem se referindo as feministas, dizendo que eram pessoas que não sabiam “ser mulher”. Fiquei por dias com essa frase me incomodando. Eu sei que ela se referia a características que atribuía a "feminilidade". Mas o que será mesmo ser mulher? Pensei naquelas mulheres que acordam quando o sol ainda nem raiou, preparando o almoço, o café, saindo para pegar o ônibus das cinco da manhã, sem tempo de passar um batom, de sentar lendo uma revista em um salão de beleza, no final de semana, com as roupas prá lavar, cuidando sozinha dos filhos, do homem que não soube ser homem, será que não sabem ser mulher, porque a vaidade não lhes cabe, no tempo que não lhes resta? E aquelas mulheres que cuidam exaustivamente de filhos com doenças crônicas, comendo em pé nos corredores dos hospitais, sem rímel, sem lápis, sem unhas pintadas, saberão ser mulher? E as que correm de suas casas, fugidas, trêmulas, com os cabelos desgrenhados, pela violência do companheiro que as expulsou, saberão ser mulher? Aquelas que estão há cinco, dez, vinte dias sem dormir, ninando o pequeno filhos nos braços, com as olheiras escorrendo pelo rosto, saberão? As que catam lixo em lamas fétidas, sem perfumes caros, sem saltos altos, saberão ser mulher, assim tão longe desses formatos? E aquelas que tem apenas duas, três peças de roupa, porque se não for assim, os filhos não tem o que vestir,o que comer, serão mulheres que sabem ser mulher?  Não, não são os padrões de feminilidade impostos. Nem o feminismo impede o batom, minha cara. Mas do que vale esse cabelo impecável e essas unhas inquebráveis, se você sequer imagina que ser mulher é justamente compreender essa dor que aflige a tantas outras e se indignar com os direitos que não chegam as outras? Você precisa aprender sobre ser mulher...

P.S. Foto da página http://tribunadoceara.uol.com.br/blogs/dialogos-urbanos/tag/dia-da-mulher/

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