domingo, 18 de setembro de 2011

Houve um tempo na minha infância que ainda ouvia alguns dizerem que "comunista comia criancinha"... O pior é que alguns falavam isso não por ignorância, mas por conveniência política, puro joguete para "salvar" o sistema a sua volta, à custa da ignorância alheia. O texto abaixo me foi enviado por e-mail por um filósofo (de formação mesmo, rsrs), que divide os dias de labuta comigo. Cavaleiro, íntegro e polido. Por suas contribuições diárias nas minhas reflexões, posto aqui para homenageá-lo...

Rossene, ontem, no momento em que eu lhe chamava de comunista e marxista, quando saíamos do “trampo”, lembrei-me do meu avô (como sempre lembro ao tratar dos aspectos dos ideais comunistas). Ele tinha um verdadeiro pavor do regime comunista por ele imaginado, com a contribuição do rádio da sua época - assim creio -, mantido pelo governo.
Dizia ele: “os comunistas não podem entrar no governo, porque vão invadir as casas dos outros e as terras dos outros e dividir. Isto é justo, o trabalho alheio ser tomado assim?”
Não me recordo exatamente a época, mas me lembro que era bem criança e obviamente não entendia o que ouvia, contudo, conceitos tidos como comunistas permearam a minha mente como algo ruim, embora não soubesse exatamente do que se tratava, até o contato com textos que abordavam o assunto.
Nascido em 1938, não alfabetizado e sempre residindo no sertão, creio que ele estava alheio à tentativa de golpe em ocorrida 1935 (com influência da denominada Internacional Comunista, braço do regime soviético na época); do boato do chamado “Plano Cohen"), em 1937, no qual surgiu um documento descrevendo como seria uma insurreição comunista (com massacres, saques, depredações, invasão e desrespeito ao lares, incêndios à igrejas, etc.); e também das atrocidades cometidas por Stálin na extinta União Soviética. De igual forma à repressão praticada contra o Partido Comunista Brasileiro, sobretudo no período de 30 a 47 - quando culminou com a cassação do seu registro pelo Supremo Tribunal Federal (o que ele comemoraria, apesar de não entender bem as “macro-implicações” daquele ato) -, assim como em grande parte da década de 60.
Mas, além do rádio, ele também tinha outro disseminador anticomunista: a Igreja Católica, pois ele é católico (antes de ser cadomblecista). Esta, como é sabido, sempre se opôs a qualquer implantação de um governo comunista ou socialista, chegando a expedir um documento, em 1949, excomungando automaticamente quem apoiasse ideias comunistas ou socialistas, afirmando que estes regimes e suas ideias eram contrários aos preceitos cristãos, pois, dentre outras coisas, “violava a ordem, negava direitos, dignidade e liberdade”. Muitos outros discursos foram proferidos em períodos anteriores e posteriores a este, e disseminados pelo mundo, não é demais crer que tenham chegado algo a ele, não sei exatamente por qual meio. Mais, porque na sua juventude, em momentos anteriores ao período militar esta mesma igreja – dentre outros, através dos Bispos Dom Geraldo Sigaud e Dom Castro Mayer -, patrocinou fortes movimentos anticomunistas, exacerbando os seus aspectos ruins, mesmo crendo que o aumento da simpatia comunista se devia a males advindos do regime econômico capitalista.
Enfim, foi bem interiorizada na mente dele o que significava o comunismo, e inevitavelmente era transferido aos que viviam a seu redor. Eu não sabia o que era, mas “sabia” que era ruim. E, sim, até hoje ele mantem o mesmo medo e não há quem o faça entender de outra forma.
Chega, Rossene! O seu blog está me afetando. Você é uma saudosista (sim, uma saudosista) e acaba me remetendo às minhas relações e contextos passados.

Att., Irlan

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