Lembro que os maços de
cigarros traziam dentro deles um pedaço de papel metalizado, meio fosco. Isso
era na década de 70 e não havia tantas papelarias, nem tantas cores e texturas
de papéis como hoje. As asas dos anjinhos das procissões eram feitas em
filó branco e depois enfeitadas com estrelinhas ou bolinhas metalizadas. Na falta das
papelarias, o papel dos cigarros servia. Eu tinha loucura para ser anjo e
loucura por aquele papel metálico. E quando me disseram que eu me transformaria
em um anjinho de roupa vermelha, na procissão de São Sebastião, saí catando todos os
maços de cigarro que encontrava pelo caminho. Uma impressão agora, de que se
fumava muito naquela época. A procissão terminou e eu fiquei com o brilho das
bolinhas prateadas até hoje, no olhar. E agora, olhando para a coluna de uma
parede da sala, onde colei espelhos em formato de estrelas, que lembram muito
as estrelinhas saltitando nas asas dos anjos em fila indiana, pelas ruas da
cidade, compreendi porque estão ali. Um sorriso infantil ao fitá-las. A parede,
as estrelas, o prateado, o par de asas e eu... flutuando por entre eles, como se estivesse no céu.
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