quinta-feira, 19 de novembro de 2015


Lembro que os maços de cigarros traziam dentro deles um pedaço de papel metalizado, meio fosco. Isso era na década de 70 e não havia tantas papelarias, nem tantas cores e texturas de papéis como hoje. As asas dos anjinhos das procissões eram feitas em filó branco e depois enfeitadas com estrelinhas ou bolinhas metalizadas. Na falta das papelarias, o papel dos cigarros servia. Eu tinha loucura para ser anjo e loucura por aquele papel metálico. E quando me disseram que eu me transformaria em um anjinho de roupa vermelha, na procissão de São Sebastião, saí catando todos os maços de cigarro que encontrava pelo caminho. Uma impressão agora, de que se fumava muito naquela época. A procissão terminou e eu fiquei com o brilho das bolinhas prateadas até hoje, no olhar. E agora, olhando para a coluna de uma parede da sala, onde colei espelhos em formato de estrelas, que lembram muito as estrelinhas saltitando nas asas dos anjos em fila indiana, pelas ruas da cidade, compreendi porque estão ali. Um sorriso infantil ao fitá-las. A parede, as estrelas, o prateado, o par de asas e eu... flutuando por entre eles, como se estivesse no céu.

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