domingo, 20 de setembro de 2015

92 anos de tio Elias, na verdade tio do meu avô. E eu ali ouvindo as filhas dele falando do pai zeloso que velava as noites em que os filhos ardiam em febre, às vezes debulhando o milho, para não adormecer. Debaixo das mangubeiras da Canabrava, mergulhada na noite, eu fui penetrando em minhas memórias. Tio Elias, homem pacífico e de poucas palavras, me lembra ao engenho de cana se movendo com os animais; a sua Quezinha, que me recebia sempre com beiju de massa, café e um sorriso. Paulo e Lena me oferecendo um copo de garapa de cana e jatobá. Os olhos e as longas tranças negras de Lena, se movendo em nossas brincadeiras. Os poucos metros que eu e minha tia Cristina percorríamos da casa de tia Helena até encontrar a porta da frente da casa de tio Elias. Zé, Eli, Vera e Silvia com sua voz limpa, de braços abertos prá mim. As filhas lembrando a convivência com o pai e eu revendo meus avós Anália e Minervino entrando na casa de Dona Edite, na sala de Dona Isaura, no engenho de Silas Braga, com os pés mergulhados no regato. Eu, me sentindo tão distante daquela realidade e de repente percebo que tudo aquilo são pedaços de mim.  O cheiro do sabão de manguba. As mulheres na lida da mandioca. O mel de rapadura escorrendo em meus dedos. Os meninos na porta da igrejinha, esperando a hora do catecismo, aos domingos. E quando estamos indo embora, meu avô entra no carro e começa a falar das suas próprias lembranças. De ter sido o primogênito de Samuel e das suas tias disputando as suas mãozinhas de garoto. Da estrada onde passavam os boiadeiros, com boiadas estrondosas, sob seu olhar de menino. Nossas memórias ativadas. De repente ouço uma voz ao longe e não identifico como parte daquele cenário. Meu filho em meu colo, me diz: - Gostei da Canabrava, mamãe! Fico pensando se parte disso tudo, chegará até ele. Ou se adormecerá junto comigo, no labirinto da memória...

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