segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Tanto tempo longe daqui...a correria é sempre a culpada, como se na verdade não fosse eu mesma a me deixar aprisionar... Tanto pensei em escrever nesse espaço de tempo. A cada dia, uma nova desculpa, até que as idéias acabam perdendo a cor e a vivacidade e um novo dia aparece, com suas repetições. Nesse tempo, o prenúncio de chuva me trouxe um sabor de novo. Afinal, as folhas voltaram a nascer nos galhos tortos e secos desse sertão. Minhas crias reclamaram atenção. Estive em Salvador e descobri que estamos cada vez mais distantes. Cada vez mais incompatíveis. Aliás, muitas coisas a minha volta tem se mostrado incompatíveis. E aos poucos, ando arejando os meus passos... Num dia desses, escrevi num pedaço de papel (tanto tempo sem utilizar o papel), esse texto que reproduzo abaixo. Espero inaugurar com ele, uma frequência mais constante a esse espaço...

Cá estou eu de novo, fincando um pé no presente e outro no passado, sempre indo e vindo, nesses alinhavos que me acometem os dias... Lembrei-me agora que andava apenas de calcinha até os 07, 08 anos, no meio da rua, quando morávamos na Federação, em Salvador. Algumas meninas da minha idade, zombavam das minhas "vestes". Mas era tão natural e eu me sentia tão segura apenas com a companhia dos desenhinhos infantis e dos babadinhos que me enfeitavam a cintura prá baixo, que pouco me importava com os comentários de minhas companheiras, abotoadas e acinturadas. Hoje se vejo uma menina com a mesma idade utilizando os mesmos trajes que me acompanhavam aquela época, já me preocupo com o que a ronda. Um novo mundo tão liberado esse que conquistamos, que coloca em risco e profana até o sagrado... Quanto sangue derramamos por um novo mundo, mas a maioria dos que aqui estão, nunca entenderão porque lutaram os que se foram... Penso nisso em instantes, tudo porque uma menininha passa saltitante em frente ao carro apenas de calcinha amarela. Lembro-me então dessa liberdade experimentada por mim. Vou divagando até me dar conta de que acabo de chegar ao Pólo da Universidade Aberta, em Ibotiraminha. Me deparo com o corredor e algumas salas repletas. Alunos discutindo trabalhos, dialogando, refletindo... É claro que queríamos a proximidade do mundo acadêmico, o calor do que se faz presente através do físico. Mas não há como negar o que existe. Nem há também como nos acomodar com o que há. Achei linda essa visão de pessoas de várias idades, ainda que por vias virtuais, estarem ali naquele momento, correndo pelo conhecimento, nessa Ibotirama que as vezes, me trás tantas interrogações... Alguém fala de Chauí ao meu lado, um outro resolve uma sentença matemática, outros tecem comentários que versam sobre ética, até que alguém me chama pelo nome. A menininha volta a correr dentro de mim, em trajes pormenores. Será um indício de que posso voltar a ter esperança no novo mundo? Ou será que a chuva, miragem de todos os dias neste deserto por onde ando, anda amolecendo esse meu ser tão árido? de toda sorte, um pouco de água a quem tem sede, trás sempre uma sensação de saciedade imediata e um desejo por mais...
Abaixo, uma poesia, a Chuva, por meu pai...

Bendita chuva

De águas cristalinas

Redenção divina

Da natureza bela

Esperança do lavrador sofrido

Vida plena dos seres que respiram

Em tuas gotas benfazejas

Mantém a vida com vigor,

Alegria

E abundância

Formando rios permanentes

Ou temporários,

Deixa em tudo fartura

E muita crença

Chuva de prata

Seja para nós

Eterna!...

(Orlando Ribeiro de Andrade)

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