quinta-feira, 1 de agosto de 2024

 Recordo-me que na adolescência (aos 14 anos), arrumando a bagagem pra estudar na capital, eu falei em casa que jamais voltaria para Ibotirama. Meu pai, cheio de sabedoria, me alertou: Cuidado, minha filha. Ouvi muita gente dizer isso e voltar. E ser mais feliz aqui. Certamente pensava na própria história. Ele mesmo, voltara após longos anos. Fato é que depois de vinte anos, eu voltei arrastando minhas ressalvas, meu companheiro, minha filha, algumas mágoas e o medo de estar retrocedendo, ao inverter a lógica e sair da capital para o interior. Hoje vejo que eu precisava me reconciliar com o meu torrão natal. Precisava vivenciar os últimos anos do meu pai e dos meus avós Minervino, Irineu e Josefa. Acolher a menina chorona que em mim habita e mostrar a ela que a cidade é o porto das minhas memórias. Talvez por isso aqui eu tenha escrito tanto, me atirado a esse universo da arte, da palavra, da cultura, como um náufrago se atracando ao bote. Em nenhum outro lugar eu pude  ser tanto, eu mesma! Talvez por isso, eu consiga ressignificar o abismo. Penso nos gatilhos de ansiedade que sofri, morando numa cidade barulhenta e distante da família. Penso na solidão de tantos dias. Hoje esse retorno, que já foi desespero, é acolhimento. Na minha infância, os finais de tarde aqui, para mim, eram tão solitários que me faziam chorar. Hoje, o céu alaranjado, ás vezes com uma lua nova surgindo, é motivo de uma alegria desmedida. 

Eu voltei prá me reencontrar! E tenho celebrado esse abraço apertado a que tenho me permitido. Toda a minha gratidão ao Universo!

Aproveito e posto essa foto do cais, ao cair da tarde, com a vista da casa de Dona Ivaí. Uma das lembranças que fazem a minha criança interior sorrir. É a ela, que ofereço essa festa.

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