sexta-feira, 2 de agosto de 2024

 Ele dizia que me amava. Falava que eu era linda, passava horas me olhando, até encher o olho d´água.  Mas me afastava dos que demonstravam sentir amor por mim. 

Ele passava as mãos no meu cabelo, elogiava a minha aparência e dizia que me amava. Mas um dia sugeriu que eu abandonasse o batom vermelho e as preocupações com a estética, porque eram exagero. 

Ele afirmava que me amava. Mas censurou o meu sorriso largo. Me olhou feio quando riram de uma piada minha. Lia o que eu escrevia, mas me disse odiar quando me abraçavam como poeta.

Ele dizia que me amava. Mas questionou a minha independência financeira. Dedo em riste, rechaçou a minha autonomia.

Ele proclamava aos quatro ventos que me amava. Mas me pediu silêncio absoluto.

A condição do amor dele era que eu deixasse de expressar o que eu vim pra ser, assim tão abertamente.

Eu aceitei o amor que ele me ofereceu, mas passei a me sentir triste, porque não queria contrariá-lo.

E ele disse que continuaria me amando. Desde que eu esquecesse quem eu era. Porque ele se incomodava quando eu ousava voar na luz da manhã, nos finais de tarde ou nas noites de lua.

Então me convenci de que o problema não era ele. Era comigo.

Até que um dia eu descobri, que acreditei em uma mentira. Ele não me amava.

E foi aí que eu comecei, nesse movimento intenso de redescoberta. Pra construir por minhas próprias mãos, esse amor de que tanto falam e do qual creio ser merecedora...



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