quarta-feira, 31 de julho de 2024

                                Diário do avc - parte II


Eu sempre fui ansiosa.  Uma pressa. Uma agitação. Um desejo de fazer correr o tempo. Tio Bé dizia sempre: - ô, menina agoniada! Quando criança, a pressa em falar era tão grande, que eu gaguejava. Eu mal respirava. Na adolescência, eu segui querendo tudo num estalar de dedos.  E fui me tornando mulher, numa correria desenfreada.  Estudei. Trabalhei. Pari. Cozinhei. Me exercitei. Amei. Fazendo tudo desembestadamente. Hoje penso que o avc, que prá mim foi o caos, veio dizer: - Minha filha, relaxa! Eu que gosto tanto de natureza, de poesia, de música. Pouco parei para contemplar. E prá amar a mim mesma. E não foi por falta de tempo. Nem de oportunidades. Foi pela pressa de existir...

 Eu sou a filha do meio de Orlando e Maria.

Cheguei quando o rio
se sobrepunha a rodovia.

Cria do Velho Chico e Iansã
eu sou a que se encanta 
na luz da manhã.
Prá espalhar as vozes de Anália, Josefa, Irineu e Minervino.
a que renasceu no caos
prá no cais ressurgir
num por do sol laranja
e infindo.

Eu sou a lua cheia nos beirais.
E sigo inteira
em lugares
onde não poderei estar
JAMAIS!

(Tâmara Rossene)